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A militância conceitual de León Ferrari

Na última semana, comemoramos o centenário do artista argentino León Ferrari. Ele tem sido sempre lembrado como “o artista que irritou o Papa Francisco”. Isso porque, em 2004, quando Bergoglio…

por Jamyle Rkain

Na última semana, comemoramos o centenário do artista argentino León Ferrari. Ele tem sido sempre lembrado como “o artista que irritou o Papa Francisco”. Isso porque, em 2004, quando Bergoglio ainda era cardeal na Argentina, Ferrari realizou intervenções para criticar a forma como a religião manipulava as massas, colocando imagens da Virgem Maria dentro de um liquidificador, dentre outras coisas.

A trajetória de León, porém, vai muito além disso, embora o episódio seja muito representativo, mostrando seu engajamento político e social, especialmente após a ditadura militar instaurada por lá em 1976.

Naquele ano, León e sua família se exilaram no Brasil, se afastando dos horrores cometidos pelo regime que havia se instaurado em seu país de origem. O artista já era muito engajado, sendo membro do Forum for Human Rights and the Movement Against Repression and Torture. O filho caçula, Ariel, resolveu ficar na Argentina e foi declarado desaparecido político depois de mais de um ano sem dar notícias aos familiares. A partir daí, o artista se engajou ainda mais no ativismo político.

No Brasil, ele continuou produzindo muito, entrando em contato com artistas brasileiros que trabalhavam em São Paulo, onde veio a morar, sendo acolhido pela cena nacional. Dentre seus amigos, estavam Hudinilson, Regina Silveira e Carmela Gross, dentre outros.

Quinze anos anos depois, em 1990, León e a esposa voltaram para a cidade de Buenos Aires, onde viveu até sua morte, em 2013. Ele é tido como um dos artistas mais significativos que atuaram na América Latina na segunda metade do século XX, sendo pioneiro no movimento conceitual de seu país. León não estudou arte, ele estudou Engenharia Elétrica na Universidade de Buenos Aires em 1947, mas trabalhou com Engenharia Química, tendo criado empresa química que trabalhava com o elemento tântalo, como conta sua neta, a editora Florência Ferrari, em texto no site da SP-Arte, publicado em fevereiro deste ano.

Ainda antes de se graduar, em 1946, ele começou a caminhar para as artes, iniciando os seus primeiros desenhos e pinturas. Logo depois, fez uma transição para as esculturas e, em seguida, para os primeiros desenhos abstratos, nos quais incorporava texto de vez em quando. Durante o exílio no Brasil, ele começou a trabalhar com outras técnicas e mídias varias, como arte postal, litografia, videotexto e livros de artista.

Ele também produziu esculturas em aço, obras bastante complexas que eram feitas usando barras de ferro que se entrelaçavam entre si. Isso desembocou na produção de enormes esculturas sonoras, que convidam o público a participar da obra, tornando-a multissensorial ao envolver também a audição e o tato. Nas palavras do artista: “Você pode tocar minhas esculturas com as mãos, com um arco de violino ou como quiser. Acredito que as divisões em botânica são bastante adequadas, onde existe uma necessidade intrínseca de rotulagem. Na arte, isso é absolutamente dispensável”.

Em seu currículo, além de ter obras em acervos de vários museus pelo mundo, como Pérez Art Museum Miami, Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA), no Museu Reína Sofia e no Museu de Arte de São Paulo (Masp), Ferrari recebeu vários prêmios, dentre os quais figuram um Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte – APCA (1983),  um Prêmio Konex (2012l, além de duas menções honrosas em anos anteriores) e, finalmente, um Leão de Ouro, da 52ª Bienal de Veneza, pela obra La Civilización Occidental y Cristiana.

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