Quando a obra Girl With Balloon, de Banksy, foi picotada no mesmo momento em que sua venda foi realizada em leilão na Sotheby’s, em Londres, muitos ficaram perplexos com a situação. Vendida por aproximadamente 1 milhão de dólares, ela foi programada pelo próprio criador para se autodestruir assim que fosse comprada.
A destruição de uma obra de arte é sempre vista como uma lástima. Afinal, ela não tem apenas um valor de mercado, mas também um valor subjetivo agregado. Porém, esse valor subjetivo pode ser completamente ressignificado quando ela é destruída, o que pode fazer com que seu valor de mercado suba. Não seria surpresa, por exemplo, se cada filete da tela de Bansky valesse o mesmo valor que a tela inteira após ser picotada. A ação “performática” de David Datuna fez com que a banana de Maurizio Cattelan fosse comida na Art Basel Miami de 2019, houve também um valor maior agregado à obra, que havia custado 120 mil dólares a seus compradores.
O ato e, principalmente, aquilo que leva ao ato, faz com que a subjetividade da obra tenha outra variação. É sempre necessário considerar a natureza da destruição para pensar nessa questão do valor. Inclusive, não é sempre, sabemos, que as obras sofrem essas “intervenções” de forma consentida ou mesmo feita pelo próprio artista. Na última quinta-feira, uma empresária jogou uma obra de Romero Britto no chão, despedaçando-a. Ela tinha acabado de comprar o trabalho, que custa por volta de 26 mil reais. E decidiu praticar o ato na frente do artista para ensiná-lo uma “lição” após tomar consciência de que ele e seus amigos tinham destratado funcionários do restaurante dela: “Nunca ofenda meu funcionário”, ela disse ao soltar o objeto no chão.
O vídeo rodou a internet e levantou muitas discussões sobre a legitimidade da ação, mas também levantou a questão do valor que teria, agora, cada caco da escultura quebrada. Portanto, qual o valor subjetivo que a reflexão base para a ação da empresária agregou ao trabalho? Como isso ressignificou a obra?
A prática da destruição consciente foi muito utilizada por artistas conceituais, pois essa ação trazia uma certa iconoclastia ao trabalho, além de ser um ato radical. Existe até um termo para isso:lost art.
Trazemos, aqui, uma lista de obras que foram destruídas pelos seus próprios criadores, dando a elas uma nova significação.
John Baldessari
Considerado um dos grandes nomes da arte conceitual, John Baldessari não só queimou todo o seu repertório criado em um intervalo de 10 anos, mas também fez biscoitos com as cinzas que obteve desse ato destrutivo. A ação foi chamada por ele de Cremation Project e, anos depois, ele contou que só soube de uma pessoa que havia comido um dos cookies!
Agnes Martin
A artista Agnes Martin criou muitas obras, mas poucas sobraram. Isso porque ela decidiu destruir a maioria delas. Essa foi a forma que ela encontrou de editar sua própria trajetória, deixando apenas os quadros que, para ela, faziam sentido ficar. Poderia ser um simples ato de seleção, mas não foi: as pinturas que eram rejeitadas por ela eram retalhadas à faca e ela inclusive chegou a recrutar amigos para ajudá-la nessa missão. Aqui não só as obras de Martin foram ressignificadas, mas toda a sua trajetória.
Noah Davis
Falecido de forma prematura em 2015, por câncer, o artista Noah Davis tinha um jeito diferente de se desfazer de seus trabalhos. Ele não destruía propriamente falando, mas acabava pintando outras telas por cima das que ele não gostava tanto assim. As pinturas, portanto, ficavam sobrepostas. Seu galerista conta que ficava fascinado com as pinturas e que, dias depois, quando perguntava a Davis quando podia buscá-las, recebia a notícia de que ele já tinha pintado por cima delas.
Blu
O artista italiano Blu, famoso por seus enormes murais por várias cidades da Europa, não gostou nada da decisão da cidade de Bologna de querer tirar suas obras da rua e levá-las para dentro da galeria. Em uma mensagem bem objetiva sobre seu descontentamento com isso, ele quebrou por volta de 20 murais que haviam na cidade. Para ele, essa mudança de espaço iria descaracterizar seu trabalho.
Claude Monet
Achou que só artistas contemporâneos faziam esse tipo de coisa? Achou errado! O francês Claude Monet foi quem fez escola com isso. Em 1908, foi para Paris para a abertura de uma individual sua. Pouco antes da vernissage, ele achou que 15 das telas não estavam próprias para serem exibidas e decidiu destruí-las. Com uma faca e um pincel errante, ele saiu destruindo uma por uma.