Um dos mais importantes nomes da arte conceitual brasileira, Cildo Meireles explora diferentes linguagens para levantar questões formais, políticas e sobre os próprios meios e circuitos das artes plásticas. Para comemorar seu aniversário de 75 anos, selecionamos cinco curiosidades sobre sua vida e obra.
DICA AQA: Atualmente a galeria Luisa Strina está apresentando uma exposição com uma das primeiras séries de desenhos do artista. “No reino da foda 1964-1987” reunem imagens elaboradas por Cildo Meireles quando ele tinha apenas dezessete anos de idade!
Tratam-se de obras figurativas em que personagens grotescos aparecem em cenas carregadas de erotismo e violência – vale lembrar que estes eram os conhecidos “anos de chumbo” da ditadura militar. Alguns trabalhos apontam, ainda, por seu interesse pela pesquisa do espaço e da própria ideia de figuração.
1.Ele já usou o medo como “matéria prima”
Muito impactado pela violência e censura durante ditadura militar, Cildo chegou a fazer instalações que induziram os espectadores a sentir a iminência do perigo que pairava Brasil naquela época. É o caso de “O Sermão da Montanha: Fiat Lux”, de 1979; e “Volátil”, de 1980.
O artista explica: “Há décadas acho que não existem lugares perigosos, existem momentos perigosos. E acho que, se algo se democratizou no Brasil, talvez tenha sido a violência. Ela está em todas as direções, em todos os sentidos”.
2.Seu pai foi um grande defensor da causa indígena
Seu pai, Chico Meireles, trabalhava com o Marechal Rondon, primeiro diretor do Serviço de Proteção ao Índio, e foi designado a investigar um massacre de índios Kraôs, denunciado por um pastor protestante do Maranhão.
Ele descobriu que esse massacre tinha sido, na verdade, o segundo perpetrado pelo mesmo grupo, comandado por Raimundo Soares. O pai do artista conseguiu transformar esse inquérito administrativo em inquérito policial, e Soares foi o primeiro a ser julgado e condenado por um crime indigenista.
Um reflexo dessa educação em casa está nas obras “Missão/Missões (Como Construir Catedrais)”, de 1986; e, “Olvido”, de 1987-1989. Em ambos os trabalhos o artista relaciona o processo de colonização e a ganância com os tantos massacres dos povos indígenas do Brasil.
3.Ele não queria falar de política
Cildo sempre se interessou pelo desenho e por uma pesquisa mais formal no campo da arte. Não à toa, um dos primeiros trabalhos que lhe deu notoriedade foi “Cantos e volumes virtuais”.
Entretanto, ele diz que se sentiu obrigado a abordar temas políticos depois que, em 1969, uma coletiva no MAM Rio, que apresentava seus trabalhos, foi fechada pela ditadura três horas antes de inaugurar. O mesmo período foi marcado por um boicote à Bienal de São Paulo, que durou 10 anos.
Mas Cildo nunca abandonou seu interesse plástico.
4.Ele já brigou com a arte conceitual…
Nos anos 1970, Cildo passou a ter implicância com a arte conceitual porque, em todas as exposições deste movimento, era preciso que ler toneladas de textos com explicações.
O artista explica “Desta forma, a arte assim perde um de seus atributos mais interessantes, que é essa capacidade de te ‘sequestrar’, de te tirar daquele lugar e daquele momento. Transportar para outro espaço, mesmo que por um milionésimo de segundo. A arte tinha se tornado uma coisa muito árida, verborrágica”.
Por isso, ele resolveu elaborar trabalhos que possibilitassem uma experiência, que fossem não verbais.
…depois fez as pazes!
Um grande amigo do artista foi preso durante a ditadura. Quando foi solto decidiu visitá-lo no ateliê e disse: “Quando eu estava preso, de vez em quando entrava uma insignificância de material qualquer. Aquela fitinha vermelha do maço de cigarro ou uma folhinha, qualquer coisa. Eu pegava aquilo, olhava e pensava: ‘Poxa, o que será que o Cildo, aquele maluco que desconecta tudo, estaria fazendo com isso?’”
Aí ele entendeu que, entre todos os movimentos de arte, o conceitual é o único verdadeiramente democrático!
5. Ele burlou o sistema da arte
Em “Inserções em circuitos ideológicos: Projeto Coca-Cola”, de 1970, e “Inserções em circuitos ideológicos: Projeto cédulas”, de 1970 até 1976, Cildo gravou mensagens em garrafas de refrigerante ( que naquela época eram reutilizáveis) e em notas dinheiro. A ideia era driblar a censura da época, mas também questionar o funcionamento do próprio circuito das artes plásticas.