Centenário de Madalena Schwartz é celebrado pelo Instituto Moreira Salles

Conhecida por retratar artistas andrógenos e travestis na década de 1970, Madalena Schwartz trabalhava como lavadeira e só começou a explorar a fotografia aos 45 anos

por Beta Germano
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Ney Matogrosso, 1974
Ney Matogrosso, 1974

Ela nasceu em 1921 na Bulgária, fugiu dos nazista e veio para em São Paulo depois de passar um período em Buenos Aires. Madalena Schwartz trabalhava como lavadeira quando, aos 45 anos, começou a fotografar com a máquina que seu filho ganhou num concurso. Moradora do Copan, Schwartz viveu no epicentro da vida cultural da São Paulo durante os “anos de chumbo” da ditadura militar brasileira e transformou o contato com a cena underground da cidade, em especial com os artistas andrógenos e travestis que se apresentavam na região, em imagens magníficas. O mistério do rosto humano lhe instigava e a fotografia era uma forma de descobrir um cenário rico e contestador, de oposição ao conservadorismo do período militar. Ela completaria 100 anos em 2021 e, para comemorar a data, o Instituto Moreira Salles reuniu 112 fotografias desta série para a mostra Madalena Schwartz: as metamorfoses, curada por Samuel Titan Jr. e Gonzalo Aguilar. 

Dzi Croquettes: Claudio Tovar, Cláudio Gaya, Roberto de Rodrigues (ao fundo) e Paulette, c. 1974

Dzi Croquettes: Claudio Tovar, Cláudio Gaya, Roberto de Rodrigues (ao fundo) e Paulette, c. 1974

“Ela tinha uma formação super tradicional, retrato em estúdio, mas ela transformou o gênero em algo mais complexo, como uma caixa de ressonância do que estava acontecendo na rua. Abre a casa-estúdio para esses personagens como uma forma de diálogo, troca e enfrentamento!”, explica Titan Jr..  “É muito interessante notar que essas pessoas estão acostumadas a posar para as câmeras quando estão ‘montadas’, mas elas deixam Madalena conhecer outras camadas. Havia uma cumplicidade, sem a qual aquela fotografia não poderia existir”, completa. São figuras famosas, como Ney Matogrosso e os Dzi Croquettes, pouco conhecidas até hoje e anônimas em cena e fora delas, desconstruídas num momento de intimidade e confiança – são fases e movimentos de metamorfoses sublimes, antes da dança, daí o título da mostra. 

As inconfundíveis linhas do Copan guia o espectador – o edifício aparece nos dois extremos da sala de exposição e também foi inspiração para a cenografia. “Boa parte das fotos que parecem de estúdio, foram, na verdade, feitas na sala do seu apartamento no Copan, transformada em estúdio improvisado e efêmero”, explica o curador. “Enfatizar o Copan é um meio de enfatizar as raízes da fotografia da Madalena Schwartz no território urbano”, continua. 

Aron e Augusto, 1973
Aron e Augusto, 1973

Além de apresentar um rico material que contextualizam a São Paulo vivida por seus personagens, os curadores da mostra fizeram um belíssimo trabalho ao trazer outros fotógrafos que pesquisavam o mesmo tema nas mesmas condições de repressão em diferentes países da América Latina: Sergio Zevallos, do Peru; Paz Errázuriz, do Chile, que teve exposição recente no IMS; Mario Montez, de Porto Rico; e Armando Cristeto, do México, entre outros. Num vídeo presente na mostra a Schwartz ressalta: “Não há nada de mais misterioso no mundo do que o rosto de um ser humano. E  a fotografia não faz mágica, ela só vai mostrar o que você quer revelar”. Agora nos resta visitar a exposição e descobrir o que elxs nos permitem ver.  

Série
Série “Las libertadoras”, Caracas, de Vasco Szinetar

Madalena Schwartz: as metamorfoses

Data: 9 de fevereiro 2021 até 13 de junho 2021

Local: IMS Paulista

Endereço: Av. Paulista, 2424 – Bela Vista, São Paulo

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