Desde 2015, Castiel Vitorino Brasileiro tem entrelaçado espiritualidade bantu-brasileira, psicologia e arte com o objetivo de criar ferramentas, instalações e práticas de cura para aqueles feridos pela categorização arbitrária de pessoas por raça, gênero, local de nascimento e outras identidades fixas – um procedimento colonial fundamental usado para proteger as estruturas de poder que se tornaram globalmente hegemônicas na era moderna. Combinando a prática de psicóloga e seus estudos sobre a cosmovisão bantu de seus ancestrais na costa atlântica da África Central, a artista cria obras e textos que entendem a cura como um estado provisório de alinhamento entre as inúmeras vidas que simultaneamente compõem uma pessoa.
Eclipse é uma instalação imersiva comissionada pelo curador Bernardo Mosqueira, para o Hessel Museum of Art, em Nova York. O trabalho nasce de materiais espiritualmente ativos – como solo, sal, carvão, tecido, pedra, água e luz – que desenham uma mandala, forma que faz referência a dikenga, o cosmograma Bantu-Kongo. Emblema de continuidade espiritual, dikenga simboliza o movimento em espiral do tempo e representa a vida como uma série de mortes e renascimentos contínuos.
De acordo com a visão de mundo Bantu, os humanos podem caminhar horizontalmente (em direção aos desafios do mundo – para frente, para trás, esquerda e direita) e verticalmente (pensando, raciocinando – para cima, para baixo e para o centro). Grande parte do sofrimento para o ser humano vem da falta de conhecimento de como caminhar para a dimensão interior, único movimento que permite que uma pessoa conheça seu próprio âmago, tornando-se, assim, seu próprio mestre e alcance o poder da autocura.
Eclipse nos atrai para caminhar em direção ao centro luminoso de um espaço escuro. No centro desse trabalho, Vitorino Brasileiro colocou um espelho d’água no qual vemos o reflexo de uma sereia que, nadando com o sol, a lua, o mar e o ar. Localizando-se como uma sereia no centro de seu Eclipse, Castiel nos inspira a mergulhar para encontrar nossos próprios interiores através da imaginação radical de nós mesmos.
Um eclipse é uma quebra que ocorre na linearidade da lua ou do ciclo solar.“Sol” é uma palavra masculina e “lua” é feminina. Portanto, a obra é também um símbolo para todas as formas de viver que contradizem inevitavelmente o sistema de identidades impostas pela colonialidade.Em Eclipse, você é convidado a sentir este espaço e a se conduzir a estados corporais desconhecidos – ao seu próprio estado de cura de eclipse.