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Bispo do Rosário: as Coisas do Mundo | Louise Bourgeois em Utopia de colecionar o pluralismo da arte

A parisiense Louise Bourgeois (1911-2010) e o sergipano Arthur Bispo do Rosário (1909-1989) marcaram a história da arte com suas obras autobiográficas criadas a partir de costura e tecido. Nada mais emblemático, portanto, que…

por Julia

A parisiense Louise Bourgeois (1911-2010) e o sergipano Arthur Bispo do Rosário (1909-1989) marcaram a história da arte com suas obras autobiográficas criadas a partir de costura e tecido. Nada mais emblemático, portanto, que exibir uma seleção icônica dos trabalhos desses artistas na antiga fábrica têxtil do interior paulista onde hoje funciona o mais inventivo museu do estado. 50 obras de Bispo e 17 de Louise, inéditas no país, estarão à mostra na Fábrica de Arte Marcos Amaro (FAMA), em Itu, a partir deste sábado, 7 de setembro, e com grande evento de inauguração.

Ambas com curadoria de Ricardo Resende, diretor artístico da instituição, as exibições criam um diálogo entre a subjetividade e as matérias-primas que coexistem nas obras dos dois artistas. Louise Bourgeois usou seus traumas e memórias para problematizar temas caros ao corpo feminino, como identidade, angústia e anseio por liberdade em suportes variados. Na FAMA, ocupam uma sala expositiva toda a escultura de tapeçaria Femme (2004), que costurou à mão, e as 16 pinturas que compõem a suíte Do Not Abandon Me (2009-2010). Esta, em parceria com a artista britânica Tracey Emin, retrata cenas e pensamentos íntimos e cheios de polêmica, seja de grávidas, seja de mulheres que beijam, habitam e até se enforcam em falos eretos. Já Femme é uma boneca sem cabeça nem membros que possui apenas curvas e um buraco no fim do torso – das mais valiosas obras do acervo da FAMA, que conta também com exemplares de Aleijadinho e Tunga.

No espaço expositivo vizinho, trabalhos de Bispo do Rosário pendem entre a loucura e a genialidade. São obras criadas na Colônia Juliano Moreira, um dos maiores pólos manicomiais do Brasil, onde Bispo, diagosticado esquizofrênico, viveu por 50 anos. Séries tipológicas de objetos cotidianos (que intitulava “vitrines”) organizam o mundo ao modo do artista. Além de pertences envoltos de azul, que Bispo mumificava com a linha dos uniformes do hospício, que desfiava delicadamente. “Refiava, costurava, bordava e recobria com linha azul. Organizava essas coisas, serializando-as, como se estivesse na linha de produção de uma fábrica – de tecidos, quiçá”, reflete o curador. 

Foi tecendo que Arthur Bispo deu origem ao Manto de Apresentação (s.d.), um dos destaques da mostra, considerada pela crítica como sua obra-síntese, adorno que ele usaria quando chegasse ao Céu. A obra condensa todo o universo de Bispo: do lado de fora, imagens e textos de seu universo particular, por dentro, nomes de pessoas queridas, eleitas por ele para serem apresentadas a Deus.  

Bispo do Rosário: as Coisas do Mundo
Louise Bourgeois em Utopia de colecionar o pluralismo da arte
Curadoria: Ricardo Resende
Abertura: 07/09/19; 12h às 17h
Visitação: até 07/09/2020; segunda a sexta, 11h-19h; sábado, 11h-15h
FAMA – Fábrica de Arte Marcos Amaro: Rua Padre Bartolomeu Tadei, 9, Itu. Entrada gratuita

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