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As coisas no caminho de Arthur Chaves

Por Jamyle Rkain

por Jamyle Rkain

É difícil definir o suporte dos corpos construídos pelo artista Arthur Chaves com tecidos, imagens e rabiscos. Podem ser vistos como telas, mas também como esculturas. Ele caracteriza como “algo que está entre o desenho, a pintura e o objeto”. Sua aproximação com o universo têxtil começou muito além e muito antes de estar vinculada a uma questão profissional. Hoje com 34 anos de idade, o artista formado em design de moda pela Universidade Veiga de Almeida, no Rio de Janeiro, começou a se interessar por isso ainda pequeno.

Durante sua infância na cidade de Seropédica, interior fluminense, Arthur costumava observar a mãe trabalhando na máquina de costura em um quartinho dentro de casa. Filho mais novo de três, passava boa parte do tempo sozinho com ela enquanto os irmãos estavam na escola: “Foi um território que sempre me atraiu: o tecido, a forma com a qual ela fazia as roupas”, ele conta. Sua proximidade com esse ambiente e o seu apreço pelo hábito de desenhar acabaram desencadeando um gosto pela moda.

O encontro de Arthur com a moda, porém, aconteceu de uma forma “muito distante da realidade”, ele garante. Isso porque, mesmo cursando a faculdade, não era propriamente o ambiente da indústria da moda que o interessava. Para ele, essa relação foi muito mais afetiva do que profissional. O que chamava a sua atenção naquele espaço era poder juntar as coisas que gostava: o desenho, as roupas, o tecido, a costura: “E continua, até hoje, sendo uma coisa mais afetiva. É quase um vocabulário. Esse universo continua sendo muito rico para mim”.

Foi ainda durante a faculdade que percebeu que estudar moda daquela forma não fazia tanto sentido para ele: “Eu sabia que não ia conseguir trabalhar na indústria da moda. Eu até queria muito, por uma questão de necessidade, mas as coisas não se conectavam”. Foi por insistência de um grupo de professores que ele se aproximou da arte: “Eles achavam que eu tinha uma relação com processo criativo, que talvez fosse importante eu prestar mais atenção nisso. Até então, eu nunca tinha tido aula de arte. A arte, na escola, era a Monalisa no livro de História”.

Sem Título [Untitled], 2019
Sem Título [Untitled], 2019

Ao finalizar a faculdade que o Arthur conheceu Charles Watson, artista e professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Como bolsista, entrou no curso de desenho oferecido pelo professor: “Eu falo sempre sobre as bolsas [na universidade Arthur também foi bolsista] porque é importante dizer que foi algo sempre muito conquistado”. A partir daquele momento, Arthur teve o que chama de seu “primeiro contato real com o universo que envolve a arte contemporânea”. De acordo com ele, essa foi a primeira vez que ele teve o pensamento de que arte é uma coisa que pode ser produzida agora, não algo distante e antigo que está fechado só ao ambiente museológico. Em decorrência desse curso, Arthur começou a trabalhar como assistente do artista Daniel Senise. Foram dez anos acompanhando Senise em seu estúdio. “Acho que toda a minha formação, o meu entendimento histórico da coisa, veio dessa convivência com o Daniel”, ressalta.

Arthur é uma espécie de imã que vai agregando tudo aquilo que lhe parece aproveitável para as suas criações e gosta de se surpreender. Muitos de seus trabalhos partem de alguma consciência, de pouco planejamento, mas seu processo criativo funciona mais como uma crônica do momento. O artista sempre se forçou a não ter um planejamento, a não saber exatamente aquilo com que está lidando: “É uma missão difícil, porque com o tempo você vai perdendo a capacidade de criar problemas. Você vai juntando soluções”.

Sem Título [Untitled], 2019

Em seu ateliê, Arthur se divide entre a máquina de costura, os tecidos, os papeis de onde coleta imagens (revistas e livros usados) e os materiais de desenho. As imagens são muito importantes para seu trabalho, sendo inseridas entre os panos costurados, criando o que ele chama de “corpos”.

O lugar de onde veio, o município de Seropédica, e o lugar onde vive hoje, a capital do Rio de Janeiro, também têm grande influência em sua obra. Os contrastes chamam muito a atenção do artista. Enquanto seu local de origem é descrito como um “lugar muito bonito e tranquilo”, a cidade do Rio é descrita como “um lugar muito bonito, mas muito violento e agressivo”.

No meio do caminho tinha…

As obras do artista são feitas de materiais que ele recolhe não só subjetivamente, mas muitas vezes fisicamente. Ele conta bastante do que o intriga são coisas que ele observa no seu dia a dia. No meio dos caminhos que percorre usualmente, se vê tentado a recolher coisas, de pedaços de tecido a fantasias de carnaval. O carnaval é outra coisa que também faz parte desse universo do artista. Desde pequeno, assistia aos desfiles na televisão. Não pelo samba em si, mas pelo visual das fantasias e dos carros alegóricos, pela procissão de tecidos que ganham vida, de certa forma.

Em sua mais recente exposição, entre novembro do ano passado e janeiro deste ano, na Galeria Superfície, o artista apresentou trabalhos de parede. No texto crítico que apresentou a mostra, o curador Raphael Fonseca frisou o “aspecto de amálgama” de Arthur e completou: “Não são trabalhos em que a ideia de desorganização predomine, assim como tentar controlar linearmente estas formas com o olhar parece em vão – é nesse movimento entre dois impulsos que sua pesquisa está baseada”.

A vontade do artista agora é ir além da parede e começar a fazer trabalhos que possam ser montados no chão, em cima de cadeiras, em lugares diversos. Corpos que se estendam e ganhem vida sobre superfícies diversas, trabalhando as muitas possibilidades que a arte contemporânea traz.

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