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Atlântico de Arjan Martins

Artista carioca investiga fluxos atlânticos e a condição de ser estrangeiro

por Jamyle Rkain

O interesse do artista Arjan Martins pela Diáspora Africana e migrações afro-atlânticas do período colonial no Brasil vai muito além de apenas retratar os antepassados ou os descendentes. Seus trabalhos percorrem também a cartografia e os formatos navegatórios, que chegam como elementos muito significativos desse período histórico e toda a formação que se deu a partir dali. “O primeiro objeto de pesquisa que chamou a minha atenção foram as cartografias, pois o Brasil está transbordando de histórias nesse atlântico hipercomplexo, é um tema muito rico e controverso”, explica o artista.

Algumas de suas obras mais conhecidas trazem bússolas, caravelas ou mapas, signos de coisas que foram cruciais para que colonizadores atravessassem os oceanos levando africanos para uma rota cruel e abominável, a da escravidão.

Arjan Martins, Sem título, 2016


Tendo sua formação iniciada na década de 90 no Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Arjan se interessou justamente por estudara pintura, uma técnica que naquele momento o cenário da arte contemporânea estava se afastando, com artistas buscando experimentar outras mídias. A dificuldade financeira na época fazia com que o acesso dele a materiais mais requintados para a produção fosse um tanto cerceada. Sua maior fonte de ferramentas eram os materiais que encontrava enquanto caminhava pela rua e recolhia para usar como fonte para suas criações. O desenho também foi muito importante durante o período que esteve estudando ali, era uma forma que ele encontrava de organizar suas ideias para depois transpô-las em outra técnica.

Em suas andanças pela cidade do Rio de Janeiro, de onde é natural, Arjan encontrou em um sebo fotografias antigas de pessoas de origem afro e decidiu retratar essas pessoas à tinta, na tela. A priori, o interesse era apenas de passar para a tela aquelas figuras, não era necessariamente sobre uma questão de identidade. Porém, no decorrer dos trabalhos que vieram a partir dali, ele percebeu que queria dedicar-se aos rostos e corpos que eram marginalizados pela sociedade, as pessoas negras, segregadas no Brasil pelo racismo estrutural ao longo da formação do país.

Arjan Martins, Americas, 2013
Arjan Martins, Americas, 2013


A partir dali, ele passou a utilizar fotografias, em sua maioria de pessoas, para compor seus trabalhos. Algumas delas repetiu diversas vezes, em cores e com composições diferentes em cada uma delas. “Elas surgem, na tela, sem os rostos, pois queria falar de identidade preservando-as. Foi interessante notar que muitos brasileiros, o espectador em geral, confundiam aquelas figuras com seus familiares, suas histórias. Eles se viam naqueles personagens”, ele conta.

As telas de Arjan encantam e trazem reflexões pelo mundo todo. Ele já expôs em várias das instituições mais importantes do Brasil e teve trabalhos em importantes bienais pelo mundo, como a Bienal de Dakar e a Bienal do Mercosul. Além disso, coleções muito relevantes, tanto públicas quanto privadas, já adquiriam obras dele para seus acervos.

Arjan Martins, “O Estrangeiro XIX”, 2017
Arjan Martins, Sem título. Foto de Wilton Montenegro

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