A série O gambito da Rainha homenageia pintora cuja vida dialoga com a protagonista apaixonada por xadrez

A pintora francesa Rosa Bonheur enfrentou um mundo estritamente masculino da mesma forma apaixonada que a enxadrista

por Beta Germano
3 minuto(s)
O gambito da rainha
Em O gambito da rainha, Anya Taylor-Joy interpreta uma órfã gênia que fez sucesso no mundo do xadrez dominado pelos homens nos anos 1960

Nesta semana a Netflix informou que 62 milhões de usuários assistiram O Gambito da Rainha – atingindo um recorde nos seus 28 primeiros dias desde a estreia, é a minissérie roteirizada mais assistida na plataforma desde sua criação! A trama mostra a história de Elizabeth Harmon, interpretada por Anya Taylor-Joy, uma órfã gênia que fez sucesso no mundo do xadrez dominado pelos homens nos anos 1960. Mas não se dê ao trabalho de procurá-la no google para saber o que aconteceu depois da carreira brilhante: baseado em um romance escrito em 1983 por Walter Tevis a história de Harmon é inteiramente fictícia. A minissérie, no entanto,  homenageia uma figura real cuja história é  tão intrigante quanto a de Harmon: a pintora francesa Rosa Bonheur. 

No início do segundo episódio, a jovem Elizabeth é recebida em sua nova casa por sua mãe adotiva, Alma Wheatley, interpretada por Marielle Heller. “Essas são gravuras de Rosa Bonheur,” declara Alma na entrada da sala, apontando para cópias das telas Shepard in the Pyrenees (1888) e Wild Cat (1850). Em seguida ela ressalta: “Não são originais, é claro. Você gosta de animais? Eu adoro eles.”

Rosa Bonheur
A artista Rosa Bonheur ganhou fama pelo seu trabalho quando o mundo da pintura ainda era dominado por homens

Acontece que quando o assunto são bons roteiristas e diretores de arte, nada é de graça! Esse pequeno detalhe da trama entrega muitas pistas que não passam despercebidas para os nerds da história da arte. Rosa Bonheur nasceu em 1822. Sua própria mãe lutou, frente a um marido ausente, para sustentar a família com aulas de piano, e morreu quando Bonheur era ainda uma menina. A história ecoa na minissérie pois a própria Elizabeth perdeu a mãe ainda muito jovem e Alma, a mãe adotiva, revela-se uma  pianista frustrada e também com um marido ausente. Bonheur, que começou a copiar pinturas no Louvre quando era adolescente, tornou-se uma das pintoras mais celebradas e bem-sucedidas de sua época, com foco específico em animais. 

Shepherd of the Pyrenees, de Rosa Bonheur
Shepherd of the Pyrenees, de Rosa Bonheur

Assim como a jogadora de xadrez, Bonheur perfurou um mundo dominado por homens e foi a primeira mulher a receber a Légion d’Honneur por seus feitos nas artes. O prêmio foi entregue pela Imperatriz Eugénie de Montijo que declarou: “Genialidade não tem sexo”.

Bonheur viveu, em épocas diferentes, com as pintoras Nathalie Micas e Anna Klumpke, e estudiosos debatem se essas eram relações românticas. “Eu me casei com arte”, ela disse certa vez. “É meu marido – meu mundo – meu sonho de vida – o ar que respiro. Minha alma encontra nela a mais completa satisfação”. A relação apaixonada ( quase doente) da artista francesa com a arte parece exatamente igual a de Elizabeth Harmon com o xadrez! Nada é à toa.

Wild Cat, de Rosa Bonheur
Wild Cat, de Rosa Bonheur
The horse fair, de Rosa Bonheur
The horse fair, de Rosa Bonheur

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