Quando a fotógrafa Claudia Andujar chegou no Brasil em 1955, passou a trabalhar como fotógrafa, adentrando no universo do fotojornalismo, colaborando para veículos bastante potentes da época, como a famosa revista Realidade e de lá para cá se tornou uma das artistas mais importantes do momento. Poder trabalhar com a imagem foi uma forma que ela encontrou de se comunicar ultrapassando os limites impostos pelas dificuldades do novo idioma. Como ela explicou em conversa no Instituto Moreira Salles em 2015: “Provavelmente uma das razões pelas quais comecei a fotografar foi porque eu não falava português, e a fotografia foi um meio de me comunicar com as pessoas”. Para entender a vinda dela para o Brasil é preciso entender sua origem.
Ela nasceu na Suíça, na cidade de Neuchâtel, e foi criada na região que hoje é conhecida como Transilvânia, em uma cidade chamada Oradea, que fica entre a Romênia e a Hungria. De família paterna judaica, passou a se deslocar continuamente quando a Segunda Guerra Mundial eclodiu em solo europeu. Na primeira vez, em meados de 1944, foi com a mãe para a Suíça. Na sequência, foi para os Estados Unidos para morar com um tio. Só em 1955, voltou a se encontrar com a mãe, quando veio ao Brasil, se estabelecendo de vez em São Paulo.
Durante o tempo que passou com o tio em Nova York, ela já havia desenvolvido certo interesse pela imagem, estudando pintura. Mas a fotografia também chamava muito a sua atenção. Construindo uma carreira muito notável no Brasil no ramo do fotojornalismo, ela foi incentivada pelo célebre antropólogo e sociólogo Darcy Ribeiro a viajar ao Mato Grosso para conhecer os indígenas de etnia Karajás. A viagem com destino para a Ilha do Bananal aconteceu em 1958. Foi ali a primeira vez que Andujar teve contato com a pauta indígena.
Andujar levou as fotografias resultantes desse encontro para as mídias brasileiras e também para veículos internacionais, já que costumava ir com certa frequência aos EUA. Já de primeira, as imagens chamaram a atenção do curador do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), Edward Steichen, que adquiriu algumas. Outras foram publicadas em uma reportagem extensa e profunda prestigiosa revista Life, publicação famosa de fotojornalismo que foi encerrada no início dos anos 2000. A partir deste momento, ela passa a se debruçar sobre o trabalho de fotógrafos como W. Eugene Smith, que usava as lentes para captar imagens de espírito mais humanistas.
A partir daquele primeiro contato, ela passou a perceber que queria levar isso para a vida, em uma busca “por raízes, pelo Brasil profundo”. De lá pra cá, produziu trabalhos icônicos, especialmente com seu mergulho de imenso interesse, cuidado e respeito na cultura dos Yanomami, como as séries Marcados, Sonhos e Genocídio do Yanomami: morte do Brasil. Mas antes desses trabalhos que a artista produziu a partir da década de 70, ela realizou uma série na qual retratava famílias de diferentes locais do país. Intitulada Famílias brasileiras, o trabalho de 1962 propunha “uma imersão nas vidas de quatro famílias”, considerando famílias de regiões e de características muito diferentes. Em seguida, faz alguns trabalhos com o povo Xikrin, no Pará. Em paralelo a esses trabalhos autorais, ela começou a trabalhar de forma fixa para a equipe da Realidade, produzindo pautas diversas… Ficou lá por cinco anos, até que em sua última viagem para fotografar para uma reportagem para a revista conheceu os Yanomami.
Nessa sua trajetória, Andujar uniu diversas frentes, sendo elas “abordagem imersão antropológica, experimentação visual e ativismo político”, como pontua bem o curador Thyago Nogueira, responsável pela exposição A Luta Yanomami, que já passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Paris, Suíça, Itália, Espanha e agora desembarca em Londres, no Barbican Centre, até o dia 29 de agosto de 2021.