Em um momento de isolamento, no qual estar dentro de casa é importante para o achatamento da curva de propagação do Covid-19, é necessário repensar a relação com o mundo lá fora, com o externo, principalmente se tratando do meio ambiente e de como entramos em comunhão com ele. Uma das artistas mais engajadas e dinâmicas nessa filosofia é Agnes Denes.
Com uma participação ativa no movimento de Arte Conceitual que teve sua efervescência borbulhando entre anos 60 e 70 nos Estados Unidos, a artista Agnes Denes não se contenta em chegar a limites, ela tem que transpô-los de alguma forma exuberante.
Nascida na Hungria, mudou-se com a família para terras estadunidenses na adolescência, tendo passado aos anos mais agitados de sua vida na cidade de Nova Iorque. Antes, haviam morado alguns anos da Suécia. As mudanças não foram por acaso: a família buscava refúgio longe do regime nazista.
Sua obra mais conhecida, Wheatfield – A confrontation, de 1982, é um marco na história da Land Art no mundo, quando artistas começaram a usar a natureza como um lar para seus trabalhos. Mas essa não foi a primeira obra que fez Denes ser considerada por muitos “a rainha da Land Art”, assentando seu pioneirismo. Formada por um enorme campo de trigo plantado a mão, esse trabalho foi também registro essencial no que diz respeito à arte pública, além de um símbolo poderoso do ativismo ambiental na época.
A obra partiu de um projeto encomendado pelo Public Art Fund, no qual Denes deveria produzir uma escultura para uma praça. Sempre com o pensamento de que a arte não deve exercer apenas um papel de ser aprazível, mas de ser acima de tudo educativa, ela não pensou duas vezes ao questionar como as tecnologias que surgiam naquele momento podiam estar de mãos dadas com a destruição do meio ambiente e também com a fome no mundo.
Deste pensamento, surgiram dois acres de trigo plantados em Manhattan, próximos a três grandes símbolos do comércio e da globalização: o Wall Street, o World Trade Center e a Estátua da Liberdade. “Todos os meus conceitos filosóficos parecem culminar e ganhar vida nas minhas obras ambientais/esculturais. Eles devem começar sua existência no mundo quando concluídos como obras de arte e chegarem a uma total compreensão à medida que crescem e evoluem com as necessidades e perspectivas da humanidade”, pontuou Denes em artigo para a revista Critical Inquiry, da The University of Chicago Press, no verão de 1990.
Dez anos mais tarde, em 1992, começou a concepção da obra notável que evidencia sua filosofia da natureza. Tree Mountain foi escolhida, na ECO-92, pelo governo finlandês para ser comissionada. O trabalho consistiu na criação de uma montanha em um espaço na cidade de Ylöjärvi, onde o solo havia sido destruído pela extração de minérios. Ao todo, levou 14 anos para chegar à sua forma total, como uma ‘cápsula de tempo viva’.
O pensamento da artista tem base não só nas questões sociais e ambientais. Seus trabalhos em larga escala e de proporções monumentais também são calcados em poesia, linguística e música. Transpor para as artes visuais questões ligadas à comunicação foi uma forma de Denes se expressar diante das várias mudanças de idiomas pelas quais passou. Quando falar parecia complicado, foi na arte que ela encontrou forma de erguer sua voz por aquilo que acreditava como chave para mudar o mundo.
Os escritos de Denes vieram depois, extremamente relevantes para a documentação de suas ideias e práticas. Um dos destaques fica para Notes on a Visual Philosophy, uma espécie de manifesto escrito em 1986. Nele, a artista pontua as interações de fenômenos e ideias em seus trabalhos, além de sua preocupação em como a “linguagem de percepções” trabalha sobre o fluxo de informações na humanidade.