Picasso e Ingres são colocados frente a frente em exposição histórica

A National Gallery acaba de inaugurar uma exposição que une uma tela de Picasso ao trabalho de Ingres que lhe serviu de inspiração

por Beta Germano
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Madame Moitessier, 1856, Jean-Auguste-Dominique Ingres.

Em 1932 Pablo Picasso pintou um quadro intitulado Mulher com um livro, em homenagem à tela Madame Moitessier, do pintor francês Jean-Auguste-Dominique Ingres, iniciada em 1844 e finalizada em 1856. Picasso viu este quadro pela primeira vez em 1921 em uma exposição em Paris e ficou alucinado pelo trabalho. Na década seguinte ele fez repetidas referências ao trabalho de Ingres, o que o levou a fazer a releitura de Madame Moitessier onze anos depois. A mulher retratada na tela do artista francês era Inès de Foucauld, esposa do poderoso banqueiro Moitessier, enquanto Picasso usou sua inspiração para retratar sua jovem amante, Marie-Thérèse Walter. 

Mulher com um livro, 1932, Pablo Picasso.

O mais interessante nesta mostra é que a justaposição das duas obras ilustra o caminho traçado pelo desenvolvimento artístico do século XIX ao século XX, curto período para a história, mas certamente os cem anos que mais revolucionaram o fazer artístico.

Picasso nasceu quase um século depois de Ingres e os estilos dos artistas não poderiam ser mais diferentes. Enquanto Ingres, apesar de moderno, foi devoto ao estilo clássico e retratou em suas telas um estilo figurativista com extrema minuciosidade e perfeição, Picasso ousou e reinventou a pintura à sua maneira, criando um estilo pictórico totalmente novo que deu origem a uma das vanguardas mais aclamadas da história, o Cubismo

A Grande Odalisca, 1814, Jean-Auguste-Dominique Ingres.

Até mesmo o objeto de interesse dos artistas era diverso, Picasso se importava menos com o que estava sendo pintado e mais com a forma inovadora por meio da qual ele pintaria. Já para Ingres, o objeto de suas pinturas era absolutamente imperativo. Em um primeiro momento ele seguiu a tradição neoclássica, já que foi um fiel discípulo de Jean-Louis David, pintor oficial da corte francesa e de Napoleão Bonaparte.

Mais tarde, seguindo uma tendência comum aos pintores franceses do século XIX, Ingres voltou seu olhar ao “oriente-próximo” e retratou muitas telas com temas ligados a esta cultura. A Grande Odalisca, de 1814, e O Banho Turco, de 1863, duas das mais famosas telas do artista, vieram deste interesse, que se deve às campanhas militares francesas rumo a países como Argélia, Marrocos, Egito e Turquia, que acabaram por revelar traços culturais destes países aos franceses.

A sopa, 1903, Pablo Picasso.

Já Picasso traçou um percurso experimental com seu próprio trabalho, caracterizado por um profundo antiacademicismo, pela gradual geometrização e, mais tarde, pela fragmentação de suas figuras. No início de sua carreira, antes de pintar o famoso quadro Les Demoiselles D’Avignon em 1907, que inaugura o Cubismo, ele passou pelas fases azul e rosa, que eram menos abstratas e mais figurativistas, quando as cores eram as protagonistas de suas telas e revelavam, de acordo com cada tonalidade e paleta, a carga emocional de cada trabalho.

Pela primeira vez na história os dois quadros estarão reunidos em um mesmo espaço e a arte dos dois gênios é posta em um extenso e mudo diálogo em uma exposição inédita inaugurada hoje na National Gallery, em Londres, que se estenderá até o dia 9 de outubro. 

Serviço:

Picasso Ingres: Face to Face

Local: National Gallery 

Endereço: Trafalgar Square, London WC2N 5DN, Reino Unido

Data: De 3 de junho a 9 de outubro de 2022. 

Funcionamento: Todos os dias, das 10h às 18h. 

Ingresso: Grátis

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