Dan Graham declarou certa vez que sua paixão nunca foi a arte. “Sempre foi a arquitetura, o turismo, o rock, e a crítica de rock”. Mas, aparentemente, a recíproca não era verdadeira: o mundo da arte tinha paixão por ele e foi por meio dele que Graham foi reconhecido. O artista, morto no último dia 19 de fevereiro em Nova York, expôs em quatro edições da Documenta e em três da Bienal de Veneza (sem contar a Bienal de Arquitetura de Veneza, aparição rara para alguém das artes visuais). Além disso, suas obras estão em instituições tradicionais como MoMA, Whitney Museum e Tate Gallery.
No Brasil, onde é representado pela galeria Nara Roesler, seu trabalho pode ser visto em Inhotim. No museu mineiro, está em exposição permanente a obra Bisected Triangle, Interior Curve (2002), que faz parte da série Pavilion, realizada pelo artista desde o final da década de 1970. Tratam-se de instalações que remetem a estruturas fartamente presentes em megalópoles, como prédios de vidro espelhado, pontos de ônibus e portas giratórias na entrada de estabelecimentos, e que investigam a relação entre o ambiente arquitetônico e o seu entorno no contexto da cultura de massas — grande tema de sua obra.
Para o artista, era importante que os espectadores fossem implicados em seus trabalhos. “Formas geométricas inabitadas e ativadas pela presença do observador, produzindo uma noção de inquietação e alienação psicológica por meio de um jogo constante entre inclusão e exclusão”, declarou.
Os vidros confundem o entendimento sobre o que está dentro e o que está fora e os limites do espaço. São instrumentos de reflexão visual e cognitiva. Quando a obra está num espaço aberto, como é o caso de Inhotim, a desorientação é maior ainda em função das mudanças de luz ao longo do dia. Em sentido metafórico, as instalações têm relação com a vigilância a que estamos submetidos nos grandes centros urbanos, já que os vidros deixam ver, mas não deixam ser vistos e também remetem a noção de voyeurismo.
Em 1964, ele fundou a John Daniels Gallery. A empreitada não foi bem sucedida, mas foi onde pode entrar em contato com os artistas emergentes de sua geração, como Sol LeWitt. A partir daí, começou a desenvolver suas propostas, mesclando prática curatorial e crítica a diferentes linguagens: instalação, escultura, performance, fotografia e vídeo.
Em Homes for America (1966), publicado na revista ArtsMagazine, ele documenta (com fotos e texto) o desenvolvimento dos subúrbios de Nova Jersey (EUA), onde cresceu. Nos anos 1960, publicou artigos e críticas sobre rock e cultura televisiva, uma rejeição aos limites da galeria de arte no formato “cubo branco” e uma forma de incorporar a onipresença e a natureza descartável dos periódicos mensais.