Quando falamos da “invenção” do modernismo no Brasil, especialmente sobre a Semana de 1922 é imensamente mais comum que as pessoas se lembrem do nome de apenas duas artistas visuais que integraram esse momento da nossa História: Tarsila do Amaral e Anita Malfatti. É inegável, aliás, que ambas contribuíram muito para o movimento e para a fatídica semana.
Neste ano que precede o centenário da Semana de 22, o ARTEQUEACONTECE irá produzir uma série de matérias, listas, artigos e muito mais para te ajudar a entender esse momento histórico tão importante para o país, e também para ir além daquilo que normalmente já se conhece. Por isso, neste dia 8 de março de 2021, o Dia Internacional da Mulher, preparamos uma lista com 6 artistas mulheres que fizeram parte da construção do modernismo no Brasil e que sofreram com certo apagamento no decorrer dos anos, especialmente pela construção do cânone da História da Arte — que sabemos ter sido permeado de visões elitistas, machistas e racistas.
Para essa lista, partimos do livro Invenções da Mulher Moderna, de Paulo Herkenhoff, lançado em ocasião de uma exposição de mesmo nome realizada no Instituto Tomie Ohtake em 2017. Na mostra, o curador buscou contar a trajetória de várias artistas que contribuíram para o movimento seja antes ou depois de 1922, seja diretamente ou indiretamente.
Veja abaixo quem foram algumas dessas mulheres:
Antionieta Santos Feio
Nascida em Belém, no Pará, em 1897, a artista Antonieta Santos Feio se especializou em pintura de retratos na Itália, na Escola de Belas Artes de Florença, onde ficou até completar 20 anos de idade, em 1917, no meio do turbilhão que antecedeu a Semana de 22. Em seguida, começou a trabalhar como professora de desenho e pintura do Instituto de Educação do Pará e expor seus trabalhos pelo país, tendo os conceitos trazidos pelo ideal modernista bastante fincados em suas influências. Em suas obras, ela costumava trazer retratos de pessoas comuns.
Maria Pardos
Espanhola radicada no Brasil, Maria Pardos migrou de sua cidade natal, Zaragoza, para o Rio de Janeiro em 1980! Ela era bailarina e pretendia fazer carreira por aqui, mas acabou tendo aulas de pintura com Rodolfo Amoedo. Com as telas que estava produzindo e que foram consideradas pré-expressionistas, integrou entre 1913 e 1918 algumas das Exposições Gerais organizadas pela Academia Imperial de Belas Artes, estando junto a nomes de expoentes do modernismo, como Anita Malfatti, que realizou em 1917 uma fatídica exposição em São Paulo que é vista como a mostra que inaugurou o modernismo no país.
Nicolina Vaz De Assis e Julieta de França
Escultora brasileira nascida em Campinas em 1874, é considerada uma das mulheres pioneiras do fazer escultórico no Brasil. Várias de suas obras estão instaladas em espaços públicos bastante frequentados, como na Quinta da Boa Vista (no Rio de Janeiro) e na Praça Julio Mesquita Filho (no centro de São Paulo). Junto à paraense Julieta de França, que foi polêmica ao se tornar a primeira mulher a participar dos cursos de modelo vivo na Escola Nacional de Belas Artes, faz parte da primeira geração de esculturas brasileiras.
Elas estudaram juntas em duas ocasiões: no Rio de Janeiro, na Escola Nacional de Belas Artes, e em Paris, na Academie Julian. No livro, Herkenhoff aponta ambas como “modernas antes do modernismo” e que só tiveram sua vida e obra revisitadas e revisadas a partir dos anos 2000.
Abigail de Andrade
Nascida em 1864 na cidade de Vassouras, interior do Rio de Janeiro, a pintora Abigail de Andrade foi uma das artistas mais importantes do momento pré-modernista. Ainda no final do século 19, ela já produzia trabalhos que viriam apenas décadas depois a emanar o espírito do modernismo brasileira. De acordo com Herkenhoff, ela foi a primeira mulher a ganhar espaço entre na “crítica modernizante emergente”, tendo observações de críticos como Angelo Agostini e Gonzaga Duque.
Georgina de Albuquerque
O impressionismo de Georgina de Albuquerque foi bastante importante para o modernismo brasileiro. A pintora nascida em Taubaté (SP) em 1885 foi bastante ousada, quebrando paradigmas, como o fato de ter sido a primeira mulher a realizar uma pintura de tema histórico, questionando valores da época e buscando transformar o ambiente da arte nacional. Isso antes e depois da semana de 22. Ela chegou a ser, inclusive, a primeira diretora mulher da Escola Nacional de Belas Artes.