Verena Smit é uma artista múltipla. Com graduação em cinema pela FAAP e especialização em fotografia, seu trabalho passa por esses e outros campos da arte contemporânea, sem depender de um suporte específico. Na verdade, é possível afirmar que a linguagem é a maior base de sua pesquisa. Desde pequenos gestos que modificam os sentidos de vocábulos e frases com simples cortes e sutis deslocamentos, até complexos jogos de palavras e sentidos, a linguagem é a matéria central de sua produção, seja em desenhos, objetos, ou instalações.
A ideia de jogo, inclusive, determina o formato de alguns de seus trabalhos, como o “Jogo da velha” formado por “eu” e “você” no lugar de “X” e “O” [Velha ou as inúmeras combinações sem vencedor, 2015], ou como o quebra-cabeça de porcelana que nunca se encaixa perfeitamente. Já em outras obras, a brincadeira aparece na sacada de um duplo sentido – “Você me enrolou”, no rolo de papel higiênico [Rolo ou as 1500 vezes que você me enrolou, 2017] – ou no formato dos desenhos que produz – como o labirinto que liga dois pontos distintos, típico de almanaques para crianças [Labirinto, 2014].
De alguma forma seus trabalhos também são articulados dentro de uma dualidade: podem partir de uma vivência íntima (um relacionamento, por exemplo), ao mesmo tempo que lidam com questões universais (como ter o coração partido); ora operam em uma escala diminuta, ora em dimensões expandidas; lidam com objetos utilitários, mas subvertem a funcionalidade em prol da poética. Essa ambivalência na produção de Smit, mais recentemente, vem ganhando contornos maiores, se expandindo também para fora do ateliê e do espaço expositivo. A ocupação da rua, em muros e empenas, tem sido um novo campo a ser explorado, em projetos que incluem intervenções urbanas e performances.