Com a exposição de mais de 250 trabalhos do célebre fotógrafo japonês Daido Moriyama, o Instituto Moreira Salles inaugura amanhã, 9 de abril, uma grande retrospectiva dedicada à longa carreira do artista, algo nunca antes feito na América Latina.
Com a curadoria impecável de Thyago Nogueira, a mostra ocupa dois andares do instituto com o universo do artista conhecendo não só o seu trabalho, mas também por revelar a cultura e a essência de um país remoto que muitas vezes está distante do imaginário do espectador ocidental.
Nascido em 1938, pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial, Moriyama começou a fotografar para jornais e revistas de grande circulação após ter se mudado para Tóquio, em 1961. O primeiro período de sua carreira é marcado pela documentação da efervescente cultura japonesa do período, marcado pela destruição da guerra, a ocupação das tropas americanas, as transformações na cultura tradicional e a ocidentalização do país.
Para Nogueira, a carreira do então jornalista se transforma à medida que ele passa a olhar o fotojornalismo com certo ceticismo, contestando a sua pretensa imparcialidade ou capacidade de realmente mostrar o mundo como ele é. “O primeiro momento onde isso acontece é com a produção do livro Japão, um teatro de fotos, de 1969, quando ele reúne todas as imagens das reportagens feitas nos anos anteriores e as distribui sem qualquer ordem cronológica ou explicação apresentando o Japão de uma forma completamente nova”, explica o curador.
Todo o primeiro andar da mostra é tomado por este e outros projetos experimentais do artista, como a série Acidente, durante a qual ele testa diferentes formas de usar a imagem para veicular notícias e acontecimentos, ou com as fotografias produzidas para as três edições da revista Provoke, dedicadas a contestar o poder de representação das imagens e a sociedade de consumo.
Em 1972, entretanto, com o livro Adeus, fotografia!, Moriyama rompe momentaneamente com o fazer artístico após entrar em um estado de crise. Para o curador da mostra, esse momento delicado da carreira do fotógrafo pode ser explicado pela “revolta de um artista contra sua submissão ao código fotográfico”. A respeito deste momento o artista diria mais tarde: “Tentei desmontar a fotografia, mas acabei desmontando a mim mesmo”.
Felizmente, nos anos 1980, Moriyama volta a se debruçar sobre o mundo em busca da essência da fotografia, valorizando os seus detalhes e buscando neles elementos básicos como a luz, a sombra e o grão de prata. E assim, o artista estende sua carreira até os dias atuais, dedicando-se à produção da revista Record, que chega à sua 50ª edição em 2022 e que se propõe a investigar a essência da fotografia por meio da captura do “cotidiano banal das cidades”, nas palavras de Nogueira.
A exposição conta ainda com revistas e livros, que estão dispostos em longas mesas para que os visitantes possam ver os trabalhos na forma como eles foram criados para existir, e salas de projeções que tornam a visita ainda mais imersiva.