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Daido Moriyama recebe retrospectiva inédita no IMS

Com um extenso acervo, o IMS convida o visitante a mergulhar na cultura japonesa por meio do trabalho de um dos fotógrafos importantes do mundo

por Beta Germano
3 minuto(s)
Hotel no bairro de Shibuya, Tóquio, revista Provoke 2, 1969

Com a exposição de mais de 250 trabalhos do célebre fotógrafo japonês Daido Moriyama, o Instituto Moreira Salles inaugura amanhã, 9 de abril, uma grande retrospectiva dedicada à longa carreira do artista, algo nunca antes feito na América Latina.

Com a curadoria impecável de Thyago Nogueira, a mostra ocupa dois andares do instituto com o universo do artista conhecendo não só o seu trabalho, mas também por revelar a cultura e a essência de um país remoto que muitas vezes está distante do imaginário do espectador ocidental. 

Nascido em 1938, pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial, Moriyama começou a fotografar para jornais e revistas de grande circulação após ter se mudado para Tóquio, em 1961. O primeiro período de sua carreira é marcado pela documentação da efervescente cultura japonesa do período, marcado pela destruição da guerra, a ocupação das tropas americanas, as transformações na cultura tradicional e a ocidentalização do país. 

Fotografia intitulada Cão Vadio, de 1971.

Para Nogueira, a carreira do então jornalista se transforma à medida que ele passa a olhar o fotojornalismo com certo ceticismo, contestando a sua pretensa imparcialidade ou capacidade de realmente mostrar o mundo como ele é. “O primeiro momento onde isso acontece é com a produção do  livro Japão, um teatro de fotos, de 1969, quando ele reúne todas as imagens das reportagens feitas nos anos anteriores e as distribui sem qualquer ordem cronológica ou explicação apresentando o Japão de uma forma completamente nova”, explica o curador. 

Todo o primeiro andar da mostra é tomado por este e outros projetos experimentais do artista, como a série Acidente, durante a qual ele testa diferentes formas de usar a imagem para veicular notícias e acontecimentos, ou com as fotografias produzidas para as três edições da revista Provoke, dedicadas a contestar o poder de representação das imagens e a sociedade de consumo.

Esta fotografia intitulada Tóquio, de 1971, faz parte de uma pequena e rara coleção de fotografias coloridas de Daido Moriyama, que fez a maior parte de seu acervo em branco e preto.

Em 1972, entretanto, com o livro Adeus, fotografia!, Moriyama rompe momentaneamente com o fazer artístico após entrar em um estado de crise. Para o curador da mostra, esse momento delicado da carreira do fotógrafo pode ser explicado pela “revolta de um artista contra sua submissão ao código fotográfico”. A respeito deste momento o artista diria mais tarde: “Tentei desmontar a fotografia, mas acabei desmontando a mim mesmo”. 

Felizmente, nos anos 1980, Moriyama volta a se debruçar sobre o mundo em busca da essência da fotografia, valorizando os seus detalhes e buscando neles elementos básicos como a luz, a sombra e o grão de prata. E assim, o artista estende sua carreira até os dias atuais,  dedicando-se à produção da revista Record, que chega à sua 50ª edição em 2022  e  que se propõe a investigar a essência da fotografia por meio da captura do “cotidiano banal das cidades”, nas palavras de Nogueira.

A exposição conta ainda com revistas e livros, que estão dispostos em longas mesas para que os visitantes possam ver os trabalhos na forma como eles foram criados para existir, e salas de projeções que tornam a visita ainda mais imersiva.

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