Teresita Fernández questiona colonização no Caribe em individual na Lehmann Maupin Gallery

A artista propõe uma revisão dos desastres ecológicos e socioeconômicos da região marcada pela extração excessiva dos bens naturais, genocídio indígena e exploração dos escravos africanos

por Beta Germano
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Maelstrom, individual de Teresita Fernández na Lehmann Maupin Gallery
Maelstrom, individual de Teresita Fernández na Lehmann Maupin Gallery

A palavra “caribbean” vem do indígena Táino (Arawak) e a palavra “carib” significa “humano.” Em sua mais recente individual na Lehmann Maupin Gallery, em Nova Iorque, a artista Teresita Fernández procura expor como a riqueza do mundo foi gerada pelo genocídio dos povos indígenas, a escravidão de africanos e a extração de recursos naturais. Ao evocar as forças geradoras da natureza, Fernndez implementa uma qualidade redentora que contraria clichês redutivos e exotizados da região, muitas vezes vulgarmente associados ao paraíso tropical e ao lazer. 

Trata-se de uma exposição multivalente e visualmente complexa que aborda a violência e a devastação duradouras desencadeadas pela colonização por meio das lentes das pessoas e das terras que constituem o arquipélago caribenho e sua diáspora. A artista nos desafia a olhar para além das narrativas continentais dominantes e evoca imagens de clima catastrófico e desastres naturais como metáforas de séculos de injustiça, intervenção militar dos EUA, destruição ecológica e opressão sistêmica. “Oferecendo uma leitura mais matizada de pessoas e lugares, ela captura as crises entrelaçadas – sociopolíticas e ecológicas – que nós, como uma sociedade americana (e global), estamos enfrentando”,  explica Alejandro Jassan.

A ideia é  refletir sobre a turbulência sociopolítica e o abandono que a região e suas populações têm sido (e continuam ser) submetidas. Daí nasce o título da mostra: a palavra  Maelstrom tem origem na língua neerlandesa, a partir da palavras “malen” (moer) e “stroom” (corrente) e significa um grande turbilhão de água. Um dos primeiros usos da palavra escandinava se deu no conto “Uma descida ao Maelström”, de Edgar Allan Poe. 

Maelstrom, individual de Teresita Fernández na Lehmann Maupin Gallery
Maelstrom, individual de Teresita Fernández na Lehmann Maupin Gallery

A obra central, Rising (Lynched Land) , é uma representação escultórica monumental de 5 metros de altura de uma palmeira suspensa no teto, pairando a alguns metros do solo. Composta por madeira chamuscada e cobre patinado envelhecido, a obra antropomorfiza a paisagem ao transformar os recursos naturais da vegetação e dos minerais num corpo suspenso que sobe, arrancado do solo.” É um trabalho sombrio que incorpora a gravidade da violência e consequências da destruição ao mesmo tempo que evoca uma ascensão metafórica redentora e digna (…) os espectadores são desafiados a ficar sob a extensa copa de cobre e olhar para cima em um gesto de reverência e reflexão”, descreve o texto da mostra. Vale observar, também, o painel de cerâmica vitrificada de 5 metros de comprimento que parece ser uma visão aérea de um dos vórtices agitados que passam pelo Caribe. A superfície refletiva e vidrada de Caribbean Cosmos  insinua o observador como uma figura nesta vasta paisagem, como participante, criador e microcosmo humano projetado no panorama do cosmos.

Maelstrom, individual de Teresita Fernández na Lehmann Maupin Gallery
Maelstrom, individual de Teresita Fernández na Lehmann Maupin Gallery

A série Black Beach (Unpolished Diamond) e a exposição como um todo nos convidam a ser uma figura na paisagem e a nos tornarmos testemunhas críticas do caos da história, do presente e dos sistemas de violência que muitas vezes tornar a terra e seu povo mudos e invisíveis. O título desta série é inspirado no ensaio do escritor, poeta, filósofo e crítico literário caribenho Édouard Glissant “The Black Beach”, no qual Glissant descreve Le Diamant, uma praia em sua Martinica natal, como tendo uma vida cíclica subterrânea. Em sua análise de “The Black Beach”, AbdouMaliq Simone, urbanista e professor de Sociologia no Goldsmiths College, University of London, descreve a ilustração de Glissant como:

Uma paisagem sempre rodopiante de sedimentos vulcânicos e areias coloridas, ventos indiscerníveis, queda de pedras e árvores (…) um lugar volátil e agitado que não faz parte do mar nem da terra. Um homem solitário é uma visão abrangente da conexão entre eventos climáticos catastróficos e nossos próprios ritmos biológicos conectados ao fluxo do universo. Sempre andando pela praia em velocidades diferentes, nunca dizendo nada, mas ajustando seus passos ao caos.

Maelstrom

Data: Até 29 de janeiro

Local: Lehmann Maupin Gallery

Maelstrom, individual de Teresita Fernández na Lehmann Maupin Gallery
Maelstrom, individual de Teresita Fernández na Lehmann Maupin Gallery
Maelstrom, individual de Teresita Fernández na Lehmann Maupin Gallery
Maelstrom, individual de Teresita Fernández na Lehmann Maupin Gallery

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