A Galeria Mendes Wood DM apresenta duas novas exposições: a primeira, de Sofia Borges, é a primeira individual da artista na galeria. Trabalhando primariamente com fotografia, Sofia Borges cria suas imagens combinando e sobrepondo enigmas em um constante processo de escavação – subtraindo da imagem suas propriedades a partir de outra imagem, propondo uma escrita apócrifa sobre a origem do tudo.
A partir da uma pratica espiral de busca da origem da imagem, Borges explora um exercício de observação e adição de camadas de significado, conteúdo, matéria sobre o que se vê, encontrando nisso o que se esconde por detrás da imagem. Sua prática em fotografia segue a contramão da mídia fotográfica – que se propõe registrar o visível – quase que em uma pragmática atividade ontológica que caminha na pesquisa da deflagração do Ser, Borges nos entrega a dúvida a partir de seu avesso: imagens matéricas, registrando os invisíveis da visão.
Selecionando cuidadosamente os ângulos dos quais tira suas fotografias, a artista rompe com a noção de ícone e o transforma em imagem, liberando-o de seu significado ou ambiente direto. Ao escolher se concentrar em detalhes específicos de um objeto ou composição, a artista provoca uma discussão sobre como a linguagem pode definir, mas também levanta questões sobre o visível e o que uma fotografia pode ser.
Na primeira sala da mostra, as paredes sustentam indecifráveis figuras, como uma esfinge que desafia não só quem à observa, mas a si mesma, ao mesmo tempo que sugere linhagens como o puro e o impuro, o autêntico e o incerto, depois de apresentá-las as embaralha. O resultado entregue por Borges tem caráter mitológico, o que leva a lembrar uma das várias correntes filosóficas que emergiram na Grécia antiga, os sofistas, que conferem às atividades pictóricas caráter mítico, o fator enigmático das imagens é o ponto central da exposição.
Esse enigma se manifesta em referência monumental na Sala Norte da galeria, tomada por um pigmento que cobre o teto, paredes e piso do espaço. Borges materializa o enigma da cor e das máscaras nos seus trabalhos bidimensionais quebrando os limites entre o olhar e a percepção. Essa busca por uma Deflagração do Ser – o olhar do artista não sendo mais um olhar sobre um exterior mas as existências que não percebidas – propõe a matéria do mito, a substância do vazio, que em uma caixa escura coberta de carvão pede a luz, assim como o fogo, que existe primeiro nessa luz, assim como a imagem, que existe antes de tudo no invisível.
A segunda mostra é uma individual do artista Antonio Obá, que traz obras realizadas a partir da temática que liga o Brasil colonial ao o Brasil contemporâneo.
Sofia Borges: As cinzas, o fogo, o avesso do brilho ou o devir do espelho
Antonio Obá: Sentinela
Abertura: 06/04/19, 14h-22h
Visitação: até 18/05/19; segunda a sábado, 10h-19h
Mendes Wood DM: Rua da Consolação, 3368, São Paulo. Entrada gratuita