A pandemia da Covid-19 nos isolou, parou o mundo, rompeu com a tentativa de linearidade do nosso cotidiano e 6,14 milhões de pessoas partiram, vítimas da doença. Ninguém permaneceu igual. Dois anos depois do início dessa calamidade, Simone Cupello traz uma exposição inevitavelmente impactada pelo contexto e reflete uma forte característica do que restou: fragmentos e rupturas.
Como é recorrente na prática da artista, um grande acervo de fotografias analógicas coletado ao longo de anos é empregado em trabalhos com características escultóricas e instalativas. Porém, Cupello inova ao incluir pedras e concreto em sua produção.
Ao exemplo da série “Prumos”, que consiste em filetes de fotografias penduradas no espaço expositivo e, como o próprio nome indica, com uma pedra pendurada para criar um eixo sólido e fixar ao chão o delicado trabalho. Essas frestas criadas no ambiente rompem com a nossa noção de espaço-tempo. Podemos dizer que as pedras refletem o desejo da artista de fixar essa “ruptura” e o instante em contraponto com a fragilidade do papel fotográfico. Uma metalinguagem da própria fotografia.
Todas as obras presentes tratam da fotografia para além da imagem revelada, realçando seu caráter físico e poético. Apesar disso, a artista afirma “não sou escultura, eu não esqueço a imagem quando trago as fotografias para a instalação”. Em “Pequenos desertos”, Cupello recorta e tira das fotografias todas as figuras humanas, deixando que o envolto – aquilo que estava em segundo plano, conte possíveis histórias. Ela afirma: “Para mim, essa exposição está cheia de gente”, e em outro momento, ela explica “as pessoas estão aqui (apontando para a obra “Domingos Cortados”), nas anotações, nos carimbos, nos versos das fotos”.
Apesar das fotografias serem de um acervo aleatório que Simone coletou de diferentes lugares sem necessariamente ter contato com as pessoas retratadas, esse distanciamento também pode ser lido como reflexo do contexto em que vivemos. Em contraponto, o tamanho das obras te convida a se aproximar, como se revelasse uma intimidade. A ausência de cores em toda a exposição reforça a ideia de passado e de “sombras”, ao mesmo tempo que cria uma espécie de memorial em homenagem aos falecidos na pandemia. As obras da série “Lapidárium” evocam lápides de fato. E ainda que a figura humana não apareça de forma ostensiva, apesar do título da exposição, é presente ao longo dela toda, sugerindo histórias que se apagaram com o tempo.
Data: 2 de abril a 28 de maio de 2022
Local: Central Galeria
Endereço: R. Bento Freitas, 306 – Vila Buarque, São Paulo – SP
Funcionamento: de segunda a sexta, das 11h às 19h | aos sábados, das 11h às 17h
Ingresso: grátis