Quando você ouve falar em expressionismo abstrato americano, provavelmente logo pensa em nomes de grandes artistas homens como Mark Rothko, Willem de Kooning ou Jackson Pollock. Mas a história nos mostrou que eles não eram os únicos gênios criadores da época. Grandes mulheres também aderiram ao movimento: Lee Krasner, Grace Hartigan, Helen Frankenthaler, Shirley Jaffe, Elaine de Kooning e Sonia Gechtoff foram algumas das poucas mulheres pintoras da época que puderam vivenciar a aclamação crítica e de público ainda em vida. Entre elas, também estava Joan Mitchel que ganha notória retrospectiva no SFMoMA sobre sua obra. Ano que vem a mostra seguirá, ainda, para o Baltimore Museum of Art.
Nascida em Chicago, esta artista americana passou mais de trinta anos na França, onde morreu em 1992. Mas ela estava em Nova York no exato momento em que a cidade fervia entre diferentes movimentos artísticos. No início da década de 1950, ela foi considerada como a principal artista da Escola de Nova Iorque e logo passou a ser uma das poucas integrantes mulheres do Eighth Street Club – no outono de 1949, um grupo dos mais renomados artistas daquele tempo, que faziam parte do movimento expressionista abstrato, se reuniu para consertar um loft no terceiro andar na 39 East 8th Street. O clube acabou se transformando num grupo de artistas e pensadores que se reuniam toda sexta-feira para organizar palestras, tocar música e dançar.
A retrospectiva acompanha toda sua carreira, reunindo obras produzidas nos Estados Unidos e na Europa. Apresenta pinturas, tons pastéis e trabalhos em papel raramente vistos, bem como cadernos de desenho e fotografias de arquivo. Influenciada pelo gênero paisagem, Mitchel é conhecida por pinturas expansivas que, muitas vezes, se estendem em vários painéis, e pelos gestos intensos ou até violentos. Era uma pintora corporal, com ritimos frenéticos. Admiradora da obra de van Gogh, Mitchell observou em uma de suas últimas pinturas – Campo de trigo com Corvos (1890) – a simbologia da morte, suicídio, desespero, depressão e escuridão. Sentindo que a tela era uma nota de suicídio, ela pintou um quadro chamado de No Birds (Nenhuma Ave) como resposta e como homenagem.
Durante o período entre 1960 e 1964, ela trabalhou em Paris e abandonou o estilo espalhado e as cores vivas de suas primeiras composições, passando a usar tonalidades sombrias e densas massas de cor centrais. De acordo com a historiadora da arte Linda Nochlin a intensidade emocional dos quadros de Mitchell era produzida estruturalmente por uma série de oposições: “pinceladas densas versus transparentes; estrutura gradeada versus mais caótica,; peso na parte inferior da tela versus peso no topo, luz versus trevas; pinceladas instáveis versus contínuas; justaposições de matiz harmoniosas e conflituosas – todos são potentes sinais de significado e sentimento”. Como o pintor Stanley Whitney afirma: Se você vai ser um pintor abstrato, você precisa sempre estar próximo do drama. Não há uma história, então o drama precisa estar na tinta, no espaço, no gesto. Entre os destaques da mostra, obras feitas em resposta a Nova York – por exemplo, Evenings on 73rd Street (1957); paisagens francesas abstratas, como Vétheuil (1967-68); e, a pintura de três painéis Bracket (1989).
Serviço:
San Francisco Museum of Modern Art: até 17 de Janeiro de 2022
Baltimore Museum of Art: De 6 de março até 14 de agosto de 2022