O Pivô apresenta a segunda versão da exposição coletiva Rocambole, desta vez na instituição portuguesa Kunsthalle Lissabon dirigida pelos curadores João Mourão e Luís Silva. A primeira versão da mostra dos artistas Flora Rebollo, Thiago Barbalho e Yuli Yamagata ocorreu no Pivô entre junho e julho de 2018, como um desdobramento de suas experiências no programa de residências Pivô Pesquisa. Agora, em Lisboa, os artistas levam adiante o processo compartilhado de construção da exposição, realizando novamente parte dos trabalhos em um ateliê coletivo no Pivô, para, então, finalizar as obras no espaço expositivo em Portugal.
O projeto é parte de um programa que comemora os 10 anos da Kunsthalle Lissabon, no qual instituições parceiras assumem toda a programação do espaço – das exposições às redes sociais – e o Pivô é a primeira instituição convidada para participar. A KL parte do desejo simultâneo de habitar e problematizar as condições institucionais, como uma alternativa aos modelos tradicionais, lidando com as ideias de proximidade ideológica, de uma ética e estética “Do-It-Yourself” e de uma prática de estreita colaboração com os artistas como parâmetros para o desenho de sua programação, que se inicia de forma aberta e flexível, para ser definida, repensada e criticada ao longo de cada ciclo anual.
A primeira versão de Rocambole foi elaborada a partir do processos de trocas e diálogos estabelecidos entre os artistas durante sua residência no Pivô Pesquisa em 2017 e continuada em um ateliê compartilhado em 2018. A nova versão, em Portugal, conta com trabalhos inéditos, que são simultaneamente uma revisão da experiência anterior e um avanço na produção individual de cada um, refletindo os processos de contaminação e influências mútuas.
Yuli Yamagata pela primeira vez trabalha com estruturas modulares – tecidos esticados em chassis de 40x40cm – apresentadas no chão formando uma espécie de topografia em que cores primárias e o branco off-white remetem à planaridade pintura moderna – Miró, Mondrian ou as pinturas de campo de cor – e também a espaços geológicos do qual emergem formas sinuosas em relevo. A estrutura modular e a disposição no chão replicam a maneira como Flora Rebollo anteriormente mostrou um de seus trabalhos no Pivô, indicando um processo de reflexão sobre a experiência anterior em que o aprendizado de uns com os outros é incorporado à singularidade de suas práticas individuais.
Flora Rebollo dá continuidade a seu processo com o desenho em que diversas camadas de materiais heterogêneos – canetinha, grafite, lápis de cor, giz de cera etc – se sobrepõem formando massas orgânicas de cores com os mais variados recursos gráficos – de pequenas hachuras, a espessas camadas de bastão oleoso. Além da incorporação de formas que irradiam cores ácidas, materiais encontrados no mundo – de fitas adesivas ou fitas métricas que contornam o desenho inicial- e intervenções diretas na parede, desta vez, Rebollo construiu um desenho pensado especificamente para as dimensões do espaço da KL, em uma interação entre a arquitetura, a imagem e as diversas esculturas de Yamagata e Barbalho, fazendo da presença física e da aproximação e distanciamento do corpo uma das experiências fundamentais da exposição.
O jogo com a relação de escalas também está presente na produção de Thiago Barbalho: Além de um grande desenho cuja superfície é totalmente preenchida, Barbalho apresenta desenhos de escala reduzida que, no entanto, são feitos com os mesmos procedimentos dos desenhos grandes – misturas de representações de todo tipo de imagem que interessam ao artista junto a trechos de pura experimentação gráfica, gerando massas de cores em composições disformes. Pela primeira vez, o artista realiza esculturas de cerâmica fria, pintadas com tinta acrílica e spray, de algum modo, espacializando as formas e gestos de sua produção bidimensional.
Rocambole
Abertura: 23/02/19, 18h30
Visitação: até 27/04/19; quinta a sábado, 15h-19h
Kunsthalle Lissabon: R. José Sobral Cid 9E, Lisboa. Entrada gratuita