Era novembro de 1971 quando o artista Francisco Brennand decidiu ocupar as ruínas da Cerâmica São João da Várzea, uma olaria fundada por seu pai, Ricardo Lacerda de Almeida Brennand, em 1917, com o objetivo de transformá-la em um ateliê. O espaço de criação de 15 km 2 tinha razão de existir. Brennand produziu intensamente. Não à toa, para celebrar os 50 anos de existência da Oficina Brennand, que virou insituto em 2019, as curadoras Julieta González e Júlia Rebouças idealizaram uma exposição retrospectiva com cerca de 200 obras do artista, sendo muitas inéditas.
Entre as obras selecionadas para Devolver a terra à pedra que era: 50 anos da Oficina Brennand, está a série Amazônica, presente na Bienal de Arte de São Paulo de 1971, cujo título faz referência ao verso de João Cabral de Mello Neto no poema “O Ceramista”, dedicado ao artista pernambucano. “Estamos trabalhando com obras desde o início de sua produção, nos anos 50, e nos debruçando sobre múltiplas linguagens, a fim de mostrar a versatilidade dele como artista”, pontua Julia.
Embora o recorte curatorial tenha por base, de maneira ampla, os pilares conceituais Natureza, Território e Cosmologias – tópicos que norteiam o programa institucional da nova fase do instituto e marcam a produção do artista ao longo de sua carreira – a exposição se apoia de forma mais diretamente no primeiro eixo. A ideia nasceu da vontade de quebrar a separação entre natureza e cultura. “Escolhemos Natureza como esse primeiro eixo, embora ele não esteja dissociado dos outros dois, porque é impossível se pensar em natureza sem pensar em território, sem pensar em cosmologias, e na composição da exposição vamos mostrando como esses conceitos estão articulados.”, continua a curadora.
No universo de criação de Brennand há uma grande diversidade de espécies híbridas, que fusionam existências animais, minerais, vegetais, sempre em tensão com as formas humanas. A natureza também está presente a partir da convivência com essas duas entidades presentes no território da Oficina que foram importantíssimas para ele: o Rio Capibaribe e a mata da Várzea. Ao construir pontes para a compreensão integrada entre natureza, cultura, arte e meio ambiente, a curadoria pretende propor uma discussão sobre o papel do ecossistema local para o entendimento da missão, identidade e vocação institucional do espaço.
O conceito Território busca ampliar as relações entre entorno e produção artística, com foco na geografia e história da região, com o compromisso social do desenvolvimento de uma comunidade mais sustentável, justa e integrada. Cosmologias, por sua vez, pretende abordar o aspecto fabulador e narrativo, por meio de diferentes cosmovisões que, na obra de Francisco Brennand, manifestam-se em evocações arquetípicas, mitologias, literatura e filosofia.
Devolver a terra à pedra que era: 50 anos da Oficina Brennand
Data: Até 12 de outubro
Local: Oficina Brennand