Interessado pela materialidade do mundo e por funções esquecidas de objetos, Marcelo Silveira desafia e tensiona definições aparentemente consolidadas de escultura, instalação, pintura, desenho, arte popular e artesanato. Tudo pode ser objeto de trabalho: madeira, couro, papel, metal, plástico e vidro são apenas alguns dos elementos explorados cuja própria configuração propõe novas ou reconhecíveis formas. “Estes objetos já não cumprem mais a função original, mas suas histórias continuam de outra forma”, explica o artista.
Os trabalhos podem nascer a partir do repertório formal comum àqueles objetos ou pela recriação de formas familiares e comuns em matérias inesperadas. Para criar, Marcelo reúne, portanto, artefatos encontrados – como cartões postais, réguas de desenho, vidros de perfume, etc. – ou objetos que remetem a utensílios domésticos, mas desprovidos de qualquer utilidade para ressignificá-los numa espécie de “duchampismo” tropical. A ideia é conferir novo sentido a esses objetos, que possuem a potência de despertar memórias afetivas.A estratégia do artista parte, portanto, do colecionismo de objetos e matérias mundanas, e segue para o constante jogo entre apropriação e produção. “O fio condutor do meu trabalho é a prática de observação do colecionismo. Existe uma grande diferença entre colecionar ou juntar coisas. E um colecionador não é apenas aquele com dinheiro, só é preciso ter critério para formar uma coleção…e qualquer coisa pode ser colecionável: objetos, amigos ou emoções”, ressalta Silveira. “E o meu critério é mostrar tudo o que já foi esquecido: as funções; práticas; materiais; relações com o meio; respeito ao outro – o esquecimento, de modo geral, me incomoda muito”, completa o artista que está trabalhando com uma série de retratos de desconhecidos em suas formaturas e revistas dos anos 1930 aos 1950, com as quais deve construir a obra Hotel da solidão (ainda em processo).
“Qualquer material ou objeto, por mais insignificante ou relevante que seja, merece o seu respeito. Se você pega algo, precisa garantir um futuro digno de alguma forma e não abandoná-lo imediatamente. Se não quiser mais, encontre alguém, pelo menos, que o recicle. Se ele está com você, é sua responsabilidade nesse mundo”, ressalta o artista.