“Sempre fui carnavalesca e drag. E os trabalhos trazem esse universo da fantasia, dos adereços e maquiagem. É como se eu tivesse tirado esses elementos do corpo, dando a eles uma nova forma”, revela a artista Rafa Bqueer sobre as dez esculturas inéditas que apresenta na exposição Boca que tudo come, na C. Galeria, no Rio de Janeiro, com curadoria de Paulete Lindacelva.
Conhecida por trabalhos de performances, fotos e vídeos, a artista criou, pela primeira vez, obras tridimensionais inspiradas no carnaval, mas que também se desdobram em temas que a artista já vinha trabalhando, como o universo das Drag Themônia (grupo de montação que nasceu no Belém que faz referências às “figuras ancestrais em drags monstruosas”) e a luta por questões raciais e de gênero.
As obras são compostas por paetês, pedrarias e tecidos diversos, elementos que fizeram parte do carnaval de 2020 (último carnaval pré-pandêmico) e foram doados pela escola de samba Grande Rio. O maior destaque é a escultura da boca que intitula a mostra que representa “uma boca com fome que não se sacia”. A curadora explica: “Pela boca de Exu tudo passa. A fome de Exu não cessa, pois é pela sua boca que tudo acontece, conflui, compartilha. Na boca de Exu se instaura o mistério de todo acontecimento vivo. Engole para devolver de maneira ambívia! O que ultrapassa a ideia de antropofagia, pois é muito mais antigo e é na diferença que o mistério acontece”.
Muito ligada ao carnaval, Bqueer foi destaque da escola campeã deste ano, cujo tema foi Exu, que também inspirou a artista na criação das novas obras. “A base para a criação desses novos trabalhos foi o desfile deste ano da Grande Rio, a referência do Exu. Mastigar os universos e vomitar um novo projeto”, conta a artista, que começou sua história com o carnaval em Belém, onde trabalhou em diversos desfiles, incluindo o da Império de Samba Quem São Eles, uma das maiores agremiações paraenses, além de ter trabalhado em diversas escolas cariocas dos grupos D, B e A.
Os trabalhos também abordam a questão do racismo, trazendo suas experiências com os desfiles das escolas de samba, arte drag e a cultura de massa das periferias para questionar os símbolos eurocêntricos de poder, bem como a ausência de narrativas afro-brasileiras e LGBTQIA+ na arte-educação e em instituições de arte.
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Serviço
Local: C. Galeria
Endereço: Rua Visconde de Carandaí, 19, Jardim Botânico – Rio de Janeiro
Data: Até 17 de julho
Funcionamento: De terça a sexta, das 11h às 18h. Sábados mediante agendamento
Ingresso Grátis