Principais exposições para conferir em São Paulo – agosto 2025

Com a Bienal no horizonte e a SP–Arte Rotas no radar, o mês já reúne algumas das exposições mais relevantes do segundo semestre em São Paulo

por Diretor
12 minuto(s)

Com a 36ª Bienal de São Paulo se aproximando e a SP–Arte Rotas marcada para o fim do mês, as galerias já estão em movimento. Agosto virou ponto de partida com exposições inéditas, retornos aguardados e artistas que vêm reconfigurando seu lugar no circuito começam a ocupar os espaços da cidade com a intensidade típica de ano de bienal.

A programação da Pinacoteca inclui uma retrospectiva da artista colombiana Beatriz González, um projeto inédito de Juliana dos Santos – que já foi destaque na nossa sessão Artista Aposta – e uma instalação no Octógono assinada por Dominique Gonzalez-Foerster.

Na Almeida & Dale, Raymundo Colares ganha sua primeira individual na cidade em 15 anos. Joséca Yanomami apresenta desenhos criados a partir de seus sonhos. No fim do mês, a galeria ainda recebe mostras de Ana Elisa Egreja, Emmanuel Nassar e uma coletiva com curadoria de Larry Ossei-Mensah.

Marina Perez Simão realiza sua primeira grande individual no Brasil, no Instituto Tomie Ohtake. Vale também visitar o Parque Linear Bruno Covas, onde a mostra “Águas Abertas” ocupa o espaço público com trabalhos voltados à relação entre arte, cidade e meio ambiente.

Raymundo Colares, Sem título, 1966 – Imagen: Divulgação

“Raymundo Colares: Pista livre” | Almeida & Dale
09.08 – 04.10

Após 15 anos sem uma individual em São Paulo, Raymundo Colares volta à cena com a exposição Pista livre, sob curadoria de Ligia Canongia. A mostra apresenta mais de 40 obras – entre pinturas, guaches e os icônicos Gibis, livros-objetos interativos – e traça um panorama da produção do artista mineiro, figura essencial da arte brasileira dos anos 1970. Colares soube condensar, em suas telas geométricas e recortes abruptos, o ritmo das ruas, o impacto da cultura popular e a aceleração do tempo. Seus ônibus desmembrados em formas e cores falam de fluxo, velocidade e transformação, temas que ganham ainda mais potência diante do mundo contemporâneo. Além das obras, o público poderá interagir com réplicas dos Gibis e assistir a um vídeo do artista Marcos Chaves, que homenageia o universo visual de Colares. A exposição marca também o lançamento do primeiro livro integral dedicado à sua obra.

Beatriz González, “Decoração de interiores”, 1981 – Imagem: Divulgação

“Beatriz González: a imagem em trânsito” + “Dominique Gonzalez-Foerster” | Pinacoteca Luz
30.08 – 01.02.26
Sala de Vídeo: Radiola de Promessa | Pinacoteca Luz
30.08 – 28.09

A Pinacoteca Luz recebe a primeira exposição monográfica no Brasil de Beatriz González, uma das figuras centrais da arte colombiana e referência incontornável da produção latino-americana. Com curadoria de Pollyana Quintella, a mostra ocupa sete salas do edifício e apresenta um recorte abrangente da obra da artista, com destaque para suas apropriações de imagens da imprensa e da história da arte ocidental. Esses materiais são retrabalhados por González em pinturas aplicadas sobre suportes não convencionais, como cortinas, móveis e placas metálicas.

No Octógono, a francesa Dominique Gonzalez-Foerster apresenta uma nova instalação concebida especialmente para o espaço. Atuando desde os anos 1990, a artista desenvolve ambientes imersivos que investigam as relações entre corpo, ficção e arquitetura, atravessando referências literárias, cinematográficas e museográficas. A curadoria é de Jochen Volz.

Ainda, a Pinacoteca exibe o vídeo que integrou a programação do Festival Pina Praça – Latinitudes. O trabalho se debruça sobre manifestações culturais do Maranhão, e explora os vínculos entre espiritualidade e reggae como formas de resistência e elaboração da memória coletiva.

Marina Perez Simão, Sem título, 2024. Foto: Guilherme Gomes

“Marina Perez Simão – Diapasão” | Instituto Tomie Ohtake
15.08 – 19.10

Com cerca de 80 trabalhos, entre pinturas, aquarelas e cadernos de estudo, Marina Perez Simão – Diapasão ocupa a principal sala do Instituto Tomie Ohtake com uma seleção que acompanha os desdobramentos formais da artista nos últimos quinze anos. A mostra se organiza a partir das aquarelas, que funcionam como exercícios de composição e teste de cor, sem operar como esboços. Essas experiências culminam nas grandes telas realizadas entre 2024 e 2025, nas quais áreas cromáticas previamente definidas são combinadas com precisão, sustentando superfícies contínuas de alta densidade visual.

A curadoria de Paulo Miyada evita leituras simbólicas e se volta à construção material das obras, enfatizando o modo como a artista organiza ritmo, cor e espaço com rigor técnico. O título remete ao diapasão, instrumento de afinação, e aponta para uma percepção que se ajusta à estrutura interna das imagens. Sem recorrer a efeitos narrativos, a exposição afirma a consistência do trabalho de Marina Perez Simão e seu papel relevante no contexto atual da pintura.

Obra de Joseca Yanomami. Foto: Filipe Berndt

Joseca Yanomami, “Urihi mãripraɨ – Sonhar a terra-floresta” | Almeida & Dale
16.08 – 11.10

Com curadoria do antropólogo Bruce Albert, a mostra reúne cerca de 30 obras que partem da cosmologia Yanomami para compor uma narrativa em torno do conceito de urihi a, a terra-floresta entendida como um sistema interdependente de humanos, espíritos, animais, rios e plantas.

Nos desenhos e telas de Joseca, figuras, paisagens e entidades são construídas com atenção aos detalhes e ao uso da cor. As imagens têm origem em sonhos, cantos e relatos dos xamãs mais antigos, dos quais o artista também participa como ouvinte e tradutor visual. Os trabalhos funcionam como registros de um conhecimento transmitido por meio da escuta e da experiência sensitiva, com elementos figurativos que se aproximam de referências externas sem perder suas raízes culturais.

Parte das obras é acompanhada de textos escritos pelo próprio artista em língua Yanomami, como forma de fortalecer a circulação interna desse conhecimento. Ao mesmo tempo, a exposição busca estabelecer uma via de comunicação com o público não indígena, chamando atenção para a complexidade e urgência da preservação desse modo de vida.

Obra de Suene Oliveira Santos. Foto: Everton Ballardin

“Eu Sou o Brasil: artistas populares” | Sesc Santo Amaro
09.08 – 28.12

Com 57 obras de 30 artistas autodidatas de diferentes regiões do país, a exposição Eu sou o Brasil: artistas populares apresenta recortes do Acervo Sesc de Arte no Sesc Santo Amaro. A curadoria de Renan Quevedo estrutura a mostra em quatro núcleos – Fauna e Flora, Cotidiano, Ofícios e Festas – para organizar as produções em torno de temas recorrentes na arte popular. São pinturas, esculturas, xilogravuras e objetos que lidam com ancestralidade, narrativas coletivas, práticas artesanais e manifestações culturais de matriz popular.

A seleção confirma a importância do acervo institucional do Sesc na valorização de artistas historicamente marginalizados no circuito da arte brasileira. Figuras como Carmézia Emiliano, Véio, J. Borges e Waldomiro de Deus compartilham espaço com nomes menos conhecidos, reforçando o caráter plural e territorial da coleção. Sem recorrer a exotizações ou leituras simplificadas, a exposição dá atenção às especificidades de cada trabalho, sublinhando a relevância dessas produções na formação do imaginário visual do país.

Deyson Gilbert, Sem título, da série Thanateros, 2025. Foto: Ana Pigosso

Deyson Gilbert, “Thanateros: abstruction_img_666.gif” | Martins&Montero
23.08 – 18.10

Na individual Thanateros: abstruction_img_666.gif, Deyson Gilbert apresenta esculturas e colagens que confrontam a abstração com materiais brutos e imagens de alta carga simbólica. As esculturas, feitas de ferro e sustentadas por encaixes provisórios, mantêm a tensão estrutural como parte do seu funcionamento visual. Embora formalmente abstratas, recebem títulos que direcionam a leitura e desestabilizam a neutralidade da forma. As colagens, por sua vez, reorganizam imagens de erotismo, guerra e violência em composições duras, marcadas por sobreposições incisivas e embates visuais.

O termo “abstruction”, criado pelo artista, combina abstração, obstrução, construção e destruição como vetores que atravessam a exposição. Esse campo de operações é articulado por três eixos — carne, chumbo e imagem — que se repetem como refrão, definindo a matéria e o léxico da mostra.

Gabriella Marinho, “Ibis”, 2025. Divulgação

“Gabriella Marinho: rastro luminoso” | Galatea Oscar Freire
23.08 – 18.10

Com texto crítico de Matheus Morani, a mostra reúne esculturas pinturas inéditas e marca a primeira vez que a artista se dedica integralmente à porcelana, material que carrega fortes vínculos simbólicos com Oxalá, orixá central nas religiões de matriz africana e figura presente em sua trajetória pessoal. As obras combinam esse suporte delicado com elementos como metal, palha, areia e azul anil, criando relações visuais e simbólicas com outros orixás ligados a esse universo.

O título da mostra faz referência ao rastro deixado por caramujos, criatura associada a Oxalá e símbolo de paciência e superação. A artista ativa essa imagem como metáfora para movimentos lentos e transformadores de ordem espiritual, territorial e subjetiva.

Uýra, “Fogo”, série Elementar, 2018. Foto: Matheus Belém

“Uýra – Terras crescidas” | Aura Galeria
27.08 – 27.09

Uýra apresenta um conjunto de fotoperformances e vídeos que investigam a relação entre corpo, território e memória na região amazônica. A mostra parte das dinâmicas geológicas das chamadas “terras caídas” e “terras crescidas” – processos naturais de erosão e sedimentação dos rios – como ponto de partida para refletir sobre os impactos históricos da colonização. Com quatorze obras e um vídeo extraído do documentário Uýra – A Retomada da Floresta, a exposição marca sua primeira apresentação na galeria Aura.

A curadoria de Denilson Baniwa sublinha o modo como Uýra emprega o próprio corpo como campo de ação e enunciado político. Suas imagens operam contra a tentativa de apagamento das identidades indígenas e amazônicas, e reativam vínculos com histórias fragmentadas por séculos de expropriação. A exposição complementa a mostra Terras Caídas, em cartaz no Parque Maria da Glória, no Rio de Janeiro, e forma com ela um conjunto que enfrenta, por diferentes vias, as consequências da colonialidade sobre o presente.

Valeska Soares, “Blindface II”, 2025. Cortesia da artista e Fortes D’Aloia & Gabriel, São Paulo/Rio de Janeiro. Foto: Eduardo Ortega

Valeska Soares, “Tableau” + Mauro Restiffe & Maria Manoella, “Onda Avalanche Vulcão” + Projeto de Marina Rheingantz | Fortes D’Aloia & Gabriel
30.8 – 18.10

Em Tableau, Valeska Soares apresenta esculturas, pinturas e uma instalação que lidam com a ideia de ausência a partir de cortes, fragmentos e objetos desfuncionalizados. A nova série Blindface introduz interrupções em telas e superfícies, expondo apenas partes de corpos, paisagens ou cenas domésticas. Um guizo suspenso sobre a mesa e móveis esvaziados de função reforçam a presença daquilo que já não está. Ao usar referências ao erotismo e ao espaço doméstico, Soares conduz a pintura para outras direções, afastando-a de estruturas tradicionais.

Resultado de um processo compartilhado entre Mauro Restiffe e Maria Manoella, a série Onda Avalanche Vulcão combina registros de viagens e retratos pessoais. As imagens, captadas por ambos, percorrem paisagens vulcânicas, quedas d’água e formações geológicas, entrecortadas por cenas domésticas e corpos em estado de repouso ou exposição. Sem hierarquia entre figura e ambiente, a montagem propõe uma aproximação entre transformação afetiva e instabilidade natural.

Na mesma ocasião, Marina Rheingantz apresenta uma obra em um novo suporte de sua prática, que funde pintura e tecelagem em um painel tecido em jacquard e posteriormente pintado. O trabalho mantém a densidade atmosférica característica da artista, agora acentuada pelas tramas do tecido.

Santídio Pereira, Sem título, 2025. Foto: Filipe Berndt

Santídio Pereira, “A céu aberto” | Galeria Estação
14.08 – 04.10

Santídio Pereira apresenta dois conjuntos de trabalhos produzidos entre janeiro e junho de 2025. As xilogravuras de céus estrelados, exibidas pela primeira vez, são resultado de observações feitas durante temporadas na cidade natal do artista, Isaías Coelho (PI), onde a ausência de luz urbana permite uma visualização intensa da esfera celeste. Ao lado dessas imagens, há gravuras e guaches com figurações de bromélias, centradas sobre fundos neutros, que marcam um retorno à superfície da terra.

Com curadoria de José Augusto Ribeiro, a mostra contrapõe escalas e direções – entre o céu e o chão, o macro e o detalhe –, sem abandonar a coerência visual que marca a produção de Santídio. As obras não partem de uma representação direta, mas de interpretações construídas a partir de experiências visuais e materiais. A observação de buracos deixados por cupins na madeira ou de folhas prensadas serviu de base para a construção de constelações, enquanto imagens captadas no celular ajudam a guiar a construção de mapas estelares pessoais. Cada peça, embora autônoma, ganha potência no conjunto.

Rubens Gerchman, “Olho”, 1967. Foto: Edouard Fraipont

“Transe” | Gomide&Co
30.08 – 15.11

Na Gomide&Co, Transe reúne obras de artistas como Mira Schendel, Cildo Meireles, Antonio Dias, Luiza Crosman e Camile Sproesser, entre diferentes gerações e práticas. Organizada em parceria com Fernando Ticoulat, que também assina o texto crítico, a exposição parte da ideia de que a arte é mais do que uma representação, mas sim um campo que pode ativar o olhar, alterar a percepção e afetar o corpo. Em vez de seguir uma ordem cronológica ou temática, a montagem privilegia relações formais, materiais e conceituais entre trabalhos que operam em registros distintos, mas compartilham o interesse pela transformação da percepção.

As duas grandes pinturas de Camile Sproesser, instaladas nas vitrines da galeria, marcam o contraste entre dia e noite por meio de símbolos solares e lunares. Já a intervenção de Luiza Crosman, construída em torno da imagem da Escada de Jacó, propõe uma leitura contemporânea da alquimia a partir de temas como espiritualidade e crise ambiental.

Daniel Jablonski, “Babosa, aloe vera (Série Flora imperial)”, 2025. Crédito: Daniel Jablonski

Daniel Jablonski, “A vida interior das plantas de interior Janaina Torres Galeria
23.08 – 04.10

Em sua individual, Daniel Jablonski transforma a galeria em uma instalação que cruza tempos, linguagens e materiais. Tapetes orientais, equipamentos fotográficos antigos e uma planta estabilizada em laboratório compõem o cenário que toma como ponto de partida dois retratos oficiais de Dom Pedro II e Teresa Cristina, fotografados por Joaquim Insley Pacheco em 1883. Nessas imagens, a monarquia brasileira posa diante de uma vegetação artificial, formada por plantas exóticas e decorativas. A partir dessa descoberta, Jablonski conduz uma investigação visual e conceitual sobre o uso da natureza nas construções de identidade nacional.

O trabalho, que já teve uma versão virtual em 2023, agora ganha corpo e espaço físico, articulando vídeo, fotografia, documentos e objetos. A presença de uma planta “preservada” – morta, mas com aparência intacta – conduz à crítica de um discurso ecológico estetizado, no qual a vida é substituída por sua aparência domesticada.

“Águas Abertas” | Parque Linear Bruno Covas
09.08 – 09.11

A exposição Águas Abertas ocupa o Parque Linear Bruno Covas com instalações concebidas especialmente para a margem oeste do Rio Pinheiros. Com curadoria de Gabriela de Matos e Paula Alzugaray, e curadoria adjunta de João Paulo Quintella e Raphael Bento, o projeto reúne trabalhos de Cinthia Marcelle + vão, Coletivo Coletores, Day Rodrigues, Keila-Sankofa, Lenora de Barros e Lúcio Ventania. A proposta é pensar o rio como território de disputa ambiental e social, em um momento em que suas margens voltam a ser transformadas por interesses públicos e privados.

As obras lidam com temas como segregação urbana, ancestralidade, escassez e resistência, ativando o espaço público como campo de troca e atenção. A instalação criada por Cinthia Marcelle e o escritório vão, por exemplo, parte de um muro que separa o Jardim Panorama de um condomínio de luxo, propondo uma barricada de blocos cerâmicos desmontável, a ser reaproveitada pelos moradores. Já Keila-Sankofa apresenta um ritual afroindígena com moradores pankararus, explorando relações espirituais com a água.

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