“Esta playlist é imperfeita, bastante imperfeita, mas acredito que bastante válida, até mesmo
para se pensar suas problemáticas”, diz a artista Priscila Rezende sobre a playlist que realizou para o ARTEQUEACONTECE. A seleção musical é a número #46 da nossa seção Playlist AQA! Para ela, escolher as músicas para a lista foi uma proposta bastante divertida e empolgante, e também um tanto difícil de finalizar.
Priscila preparou uma playlist que passa pelo estilo musical reggaeton, que tem suas origens em terras caribenhas! Ela escreveu um texto especial explicando a sua relação afetiva com esse ritmo e destrinchando também sua história, sem deixar de apontar algumas discussões críticas em torno dele. Leia abaixo:
Foi em 2017 que eu cruzei com o reggaeton pela primeira vez durante uma viagem por alguns
países da América do Sul, e é esse ritmo que tenho escutado e me interessado cada vez mais
desde então. Ouvindo e conhecendo os principais nomes do ritmo na atualidade, surgiu
principalmente a necessidade de entender de onde o mesmo vinha, e de certa forma me
surpreendeu entender como o ritmo se assemelha ao funk carioca em sua história. Surgido nas
periferias de Porto Rico, o reggaeton é um ritmo originalmente negro, baseado na fusão de
ritmos afro-caribenhos como o reggae e dancehall com o hip-hop estadunidense.
Marginalizado, censurado, estereotipado no ramo, não diferentemente do funk carioca, sofreu
com o tempo o embranquecimento massivo ao alcançar o forte interesse da indústria
mainstream.
Digo que foi ao mesmo tempo divertido e difícil fazer essa playlist pois o ritmo não está imune
a muitas problemáticas presentes na música: misoginia, machismo, hiperssexualização, drogas
e afins eram bastante recorrentes no surgimento do ritmo. Há críticas, muitas críticas. Muitas
mulheres foram surgindo e tomando lugar num cenário dominado por homens, e estão dando
seu recado. Tentei ser o mais criteriosa possível na escolha das músicas na tentativa de não
endossar certos discursos aqui.
O reggaeton fortaleceu principalmente minha paixão pela língua castelhana, a proximidade
com a cultura latina, cultura essa que é fortemente preenchida por uma raiz afro-diaspórica
originária de diversos ritmos para além do reggaeton, por isso também tentei principalmente
trazer uma maioria negra ora protagonizando, ora em parcerias.
Essa playlist é pra mim bastante afetiva por também trazer lembranças das andanças e
descobertas de conexões com a ancestralidade negra nos poucos países pelos quais passei
aqui no sul global, em especial a Colômbia.