Enquanto Adriana Varejão rasga telas e azulejos para expor os traumas da colonização brasileira, Ayrson Heráclito recupera a força de mitologias africanas que aportaram no Brasil com a chegada dos milhões de homens e mulheres escravizados. Esse é o tema de Yorùbáiano, individual do artista baiano que abre no próximo sábado, 2.4, na Pina Estação, e que dialoga com Suturas, fissuras, ruínas, individual de Adriana Varejão aberta na última terça, 29.3, na Pinacoteca.
Com curadoria de Amanda Bonan, Ana Maria Maia e Marcelo Campos, a exposição ocupa três salas. Por meio dos 63 trabalhos selecionados para a mostra, o artista apresenta mitos yorubanos ou nagôs e jejes e saberes ancestrais que fazem parte das matrizes religiosas e culturais do candomblé. Heráclito é professor universitário, historiador da arte, curador e ogã de Candomblé de matriz Jejê-Mahi. Para a exposição, trouxe instalações, fotografias, vídeos e performances.
A mostra, originalmente concebida para o Museu de Arte do Rio em 2021, articula materiais orgânicos como o açúcar, o azeite de dendê e a carne curtida no sal. O primeiro faz referência, ao mesmo tempo, à ganância da monocultura canavieira escravocrata e à divindade Exú, a quem, em ritual, é oferecida a cachaça. O segundo simboliza fluidos do corpo humano: sangue, sêmen ou saliva — na instalação Regresso à pintura baiana (2002), por exemplo, ele tingiu uma maquete da Igreja do Rosário dos Pretos com o dendê. Já o terceiro alude às violências sofridas pelo povo negro escravizado e remete ao orixá Ogum.
Destaque para o registro da performance ritualística Sacudimento (2022), realizada pelo artista ao redor do edifício da Estação Pinacoteca, onde funcionou o Dops (Departamento de Ordem Política e Social), órgão de repressão que torturava presos políticos durante a ditadura militar.
E também para a instalação fotográfica Borí (2008-2011) que contempla 12 fotografias do ritual de fazer a cabeça ou “borí”, representando cada um dos 12 orixás do xirê. No dia 11.8, o espaço Octógono, no edifício da Pinacoteca Luz, será palco do ritual sagrado, com duração de cerca de duas horas, conduzido pelo artista, com a presença de músicos e 12 iniciados da religião africana.
Ayrson Heráclito: Yorùbáiano
Data: 2 de abril a 22 de agosto de 2022
Local: Pinacoteca Estação
Endereço: Largo General Osório, 66 – Luz
Funcionamento: de segunda a sábado, das 10h às 18h
Ingresso: grátis