Arte imune
“A arte sempre ajudou, tratou e curou – aliás, alguns dos primeiros museus do mundo foram hospitais”, lembrou Carolyn Christov-Bakargiev, diretora do Castello di Rivoli, perto de Torino. A instituição foi a primeira a anunciar, esta semana, que criou uma parceria com o sistema de saúde local e vai abrir suas vastas galerias como um centro de vacinação Covid-19, facilitando a logística de distanciamento – a sala cedida tem cerca de 900 m2. . Os guardas do museu também estarão disponíveis para guiar os visitantes com segurança para dentro e para fora do edifício.
Mas os amantes da arte não ficarão desapontados: o museu foi ocupado por um conjunto de murais da artista suíça contemporânea Claudia Comte que poderão ser apreciados durante o processo de vacinação. “Nós – e todos os museus públicos – estamos comprometidos em criar um espaço acessível e plural para servir a nossa comunidade. Mesmo com as nossas exposições fechadas, os nossos edifícios podem continuar a servir este propósito e cumprir a nossa missão: Arte cura”, completa Bakargiev.
Na Inglaterra, espera-se que o Science Museum, de Londres, e o Black Country Living Museum, em Dudley, sejam sedes para vacinação em massa. Já o Thackray Museum of Medicine, em Leeds, está vacinando pacientes desde dezembro do ano passado.
De mãos dadas
Nesta semana os norte-americanos comemoraram o dia de Martin Luther King Jr.. Entre as homenagens, foi anunciado que em 2022 o mais antigo parque da nação, o Boston Common, vai receber um dos maiores memoriais do país dedicado à justiça racial: The Embrace, projetado pelo artista Hank Willis Thomas e arquitetos do MASS Design Group.
A escultura, de 6 metros de altura, presta homenagem ao compromisso de Dr. Martin Luther King Jr. e Coretta Scott King com a igualdade racial e será composta por dois pares de braços de bronze, entrelaçados em um círculo. De acordo com o NY Times, a imagem é baseada em uma fotografia dos Reis se abraçando depois que o Dr. King ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1964. Thomas é um artista conceitual que se tornou conhecido nos últimos anos por esculturas públicas – incluindo o Memorial to the Lingering Horror of Lynching, em Montgomery, Alabama.
Mais pontes, menos muros
Uma das obras mais comentadas na semana foi a instalação do estúdio de arquitetura Rael San Fratello, que conectou crianças nos Estados Unidos e no México por meio de um trio de gangorras encaixadas na parede da fronteira dos países. De um lado, crianças de El Paso, no Texas; do outro, moradores de Ciudad Juárez, no México.
O projeto, que ganhou um prêmio organizado pelo Design Museum de Londres na última segunda-feira, durou cerca de 40 minutos em julho de 2019 e esperava promover um sentimento de unidade na fronteira divisória, que foi altamente politizada sob a administração de Trump. A coloração rosa brilhante foi inspirada nos memoriais de Ciudad Juarez, que homenageiam as mulheres assassinadas na cidade.“Acho que está cada vez mais claro com os recentes acontecimentos em nosso país que não precisamos construir muros, precisamos construir pontes”, declarou San Fratello para o The Guardian. “As paredes não impedem as pessoas de entrar em nosso Capitólio. As paredes não impedem que os vírus se movam. Temos que pensar em como podemos estar conectados e juntos sem nos machucar.”, acrescentou.
Bernie Sanders está presente
O acontecimento mais importante da semana, sem dúvidas, foi a posse de Joe Biden e Kamala Harris. Performances de Lady Gaga, Jennifer Lopez e Katy Perry transformaram o evento político num espetáculo à parte. O que mais chamou a atenção das pessoas, no entanto, foi o poema da jovem Amanda Gorman e o despojamento do senador democrata Bernie Sanders!
Sua foto sentado sozinho na cerimônia de pernas cruzadas e grandes luvas viralizou nas redes sociais: os internautas a imagem recortaram e aplicaram em diferentes situações, inclusive exposições de artes e ao lado de obras ou performances icônicas como The artist is present, de Marina Abramovic, I like America and America Likes Me, de Joseph Beuys; e, a instalação One and Three Chairs, de Joseph Kosuth.
Os museus foram rápidos em embarcar na piada. A Phillips Collection, por exemplo, logo tuitou um grupo de imagens grosseiramente editadas de Sanders – no centro de uma galeria cheia de Rothkos em uma, participando do famoso almoço de festa de barco de Renoir em outra – com o texto “Mais uma vez, peço que não toque na obra de arte”. O Ashmolean Museum também entrou na dança e tuitou inúmeras versões com obras de sua coleção. O historiador da arte Michael Lobel fez uma versão em que Sanders dentro de um café de Nighthawks, de Edward Hopper e outros colocaram o senador dentro de obras icônicas de Sandro Botticelli, Vincent van Gogh, ASCO e Georges Seurat. No dia seguinte, o senador contou que a luva de tricô que tanto chamou atenção foi feita pela professora Jen Ellis com lã reaproveitada de suéteres e um forro com garrafas de plástico recicladas.
Cortando cabeças
Quando Joe Biden passou a residir em seu recém decorado Salão Oval, historiadores foram rápidos em apontar que a nova administração havia mais uma vez removido o busto de Winston Churchill emprestado à Casa Branca pelo governo inglês em 2001, durante o regime de George W Bush.
Barack Obama foi o primeiro presidente a remover o busto do Salão Oval em sua posse, mas Donald Trump resgatou a obra!Na época, Obama justificou o ato dizendo que havia movido a estátua para substituí-la por uma de Martin Luther King. A atitude deixou os ingleses fervorosos e nesta semana não foi diferente.
Os críticos da estátua dizem que o memorial reflete uma glorificação do colonialismo britânico.O mundo presenciou semanas de agitação civil após a morte de George Flloyd em maio de 2020, gerando protestos contra a injustiça racial e um reexame dos monumentos culturais. Durante os protestos, uma estátua de Winston Churchill, erguida na Praça do Parlamento de Londres, tornou-se um alvo frequente dos manifestantes. O Salão Oval de Biden agora contém estátuas dos heróis dos direitos civis: além de King, é possível ver representações de Robert Kennedy, Rosa Parks, Cesar Chavez e Eleanor Roosevelt. Boris Johnson
Presidente novo, coleção nova
Joe Biden e Kamala Harris mal pisaram no Capitólio dos EUA e já receberam como “presente”: a tela Landscape with Rainbow, pintada em 1859 pelo artista Robert S. Duncanson, um artista abolicionista negro, foi emprestada pelo Smithsonian American Art Museum, em Washington.
Duncanson estava entre os artistas negros mais elogiados nos Estados Unidos nos anos em torno da Guerra Civil, tendo acumulado uma reputação por suas paisagens exuberantes feitas no estilo de Thomas Cole. O pintor radicado em Cincinnati era conhecido, entre outras coisas, por suas visões políticas abolicionistas, que frequentemente figuravam em suas paisagens de maneiras metafóricas. Muitas de suas pinturas trazem paisagens pacíficas que poderiam ser vistas como visões alternativas de um país sem conflitos.
Susurros pictóricos
Desde quarta-feira, 20 de janeiro, a Galeria Kogan Amaro, localizada em São Paulo, irá abrir ao público a exposição Nos Confins, uma individual de Gabriel Botta. Apresentando cerca de 20 trabalhos do artista, entre pinturas e desenhos, a mostra tem curadoria da pesquisadora, curadora e crítica cultural Pollyana Quintella. Segundo a curadora, a obra de Botta desenvolve um pensamento em torno da aparência frágil das coisas ao mesmo tempo que apresenta sua “pulsão por tomar as superfícies”.
A Intenção do artista é fazer com que o público reflita ao observar cada trabalho, que “propõem enigmas, sussurram segredos e nublam a visão do espectador, proporcionando a sensação de que é possível apenas entrever, espiar e vislumbrar”.
Lehmann Maupin apresenta obras de Do Ho Suh
Conhece a obra do artista sulcoreano Do Ho Suh? Ele é mais conhecido por suas esculturas de tecido que reconstroem em escala suas antigas casas. Mas o artista trabalha em várias mídias, criando desenhos, filmes e obras escultóricas que confrontam questões de casa, deslocamento, memória, individualidade e coletividade.
Suh está interessado na maleabilidade do espaço em suas formas físicas e metafóricas e examina como o corpo se relaciona, habita e interage com esse espaço.Ele está particularmente interessado no espaço doméstico e na forma como o conceito de casa pode ser articulado por meio da arquitetura que tem um local, forma e história específicos.
Para Suh, os espaços que habitamos também contêm energia psicológica, e em seu trabalho ele torna visíveis esses marcadores de memórias, experiências pessoais e uma sensação de segurança, independentemente da localização geográfica.
O artista abriu hoje, de forma física e virtual, uma mostra na sua galeria londrina, a Lehmann Maupin. Não deixe de conferir.
Entre a figura e a abstração
Na última sexta-feira, dia 22 de janeiro, a White Cube abriu uma individual online de Emma Cousin, jovem artista já conhecida por pinturas figurativas que apresentam cenários carnavalescos dinâmicos, explorando o espaço entre o realismo e a fantasia, a experiência sentida e a comunicação. Respondendo às limitações da linguagem quando usada para articular as complexidades da experiência e emoções humanas, Cousin questiona como poderíamos interagir sem ela, em estados pré ou pós-linguísticos. Levando essa ideia de “o fracasso da linguagem ao ponto final”, a artista busca imaginar como os gestos do corpo como principal potência.
Desvio para o Vermelho
Se você está em São Paulo e pensa em aproveitar os finais de semana para visitar as exposições que estão em cartaz, como OSGÊMEOS , na Pinacoteca, e Beatriz Milhazes no Masp e Itaú cultural, é hora de mudar os planos e ficar em casa!
O Governo do Estado de SP anunciou nesta sexta-feira, 22 de janeiro, que colocará o estado inteiro em fase vermelha de quarentena durante os finais de semana dos dias 30 e 31 janeiro e dos dias 6 e 7 de fevereiro. Desta forma, estabelecimentos que não forem de serviço essencial não poderão ficar abertos. Isto é, museus, centros culturais e galerias estarão fechados. Nos dias da semana, os locais deverão fechar às 20h. Nesta semana, a taxa de ocupação de UTIs em todo o estado por conta da pandemia ultrapassou os 70%. Em Minas Gerais, a capital Belo Horizonte, que está há duas semanas em lockdown, deve reabrir na próxima semana, mas ainda não há certeza de como será o regime de horários que os estabelecimentos poderão ficar abertos.
Nos últimos dias, o Brasil voltou a ter uma média móvel de mais de 1000 mortes por dia em razão da Covid-19. Nesta sexta-feira, o país contabiliza por volta de 215 mil óbitos causados pela doença.
Incertezas vivas
Na manhã desta quinta-feira, 21 de janeiro, a Art Basel comunicou que sua edição realizada na Basileia, na Suíça, foi adiada de junho para setembro, de 23 a 26, para evitar o avanço da pandemia do coronavírus. O preview deve acontecer nos dias 21 e 22. A feira ainda anunciou também que irá realizar três edições online durante 2021, no formato viewing room – em 2020 eles criaram cinco versões! As edições virtuais da Art Basel tiveram uma dimensão bastante positiva no ano passado, fazendo a organização considerar o formato de maneira permanente para os anos seguintes.
Estão confirmadas, portanto, três feiras virtuais da Art Basel este ano com caráter temático: uma em março dedicada a artistas pioneiros; outra em junho na qual curadores convidados farão seleções especiais; e, uma última em novembro com obras produzidas em 2021!
A edição física da feira em Hong Kong aconteceria em março, mas desde novembro foi adiada sem data certa. “Embora a primeira fase dos programas de vacinação da Covid-19 tenha começado em muitas partes do mundo no mês passado, 2021 é um ano em que o planejamento permanece complexo devido a muitas incertezas”, comentou em comunicado o diretor global da Art Basel, Marc Spiegler.