Em cartaz até o dia 22 de janeiro de 2022, De ontem para hoje já era amanhã apresenta a produção mais recente de Pedro França, acompanhada por texto crítico de Clarissa Diniz.
A partir de uma disposição espacial que marca o tempo das coisas, os trabalhos são apresentados conforme a necessidade de cada linguagem. A expografia dispõe de bancos para apreciação das pinturas e painéis eletrônicos de led para exibição dos vídeos; como quem convida o espectador a entrar no tempo alongado da pintura a óleo e no frenesi das imagens digitais. É no caminhar para uma história da arte antiga e também futurista, que a produção de Pedro França se constrói. Esculturas em cerâmica, pinturas a óleo sobre linho, maquetes, bancos de madeira e colagens de gif convivem no presente. Na exposição, o futuro e o passado andam de forma simultânea.
O vídeo Ibirataquera, de 2020, apresenta uma espécie de tomada da natureza no entorno do Monumento às Bandeiras, a partir de uma simulação gráfica que recupera toda a biodiversidade da região em um raio de três quilômetros. Neste, Pedro França reposiciona o monumento em 180º e aponta a cabeça dos cavalos de volta para o litoral, ao passo que desmonta a infraestrutura urbana e refaz as conexões com córregos e rios. E por mais fantasioso que o vídeo possa parecer, o artista está falando de algo factível. Dada a circunstância, por ser este um local de várzea, é possível que as 12 mil toneladas de granito do conjunto escultórico de Victor Brecheret possa afundar lentamente na lama.
Em continuidade a relação dúbia que há entre o que é delírio e o que é factível, suas pinturas partem de imagens que vêm de visualidades fantasiadas e de um repertório vivido pelo artista com a Cia Teatral Ueinzz e em experiências ritualisticas. Uma vez mais, é por meio da ambiguidade que seus trabalhos ganham corpo. Conforme ele coloca, “Queria fazer pinturas deliberadamente não tagueadas. É erótico, mas não é sobre isso totalmente. As pessoas estão vivas, mas também não sempre. É muito carinhoso, mas também é muito agressivo”.
Quando questionado se estamos meio vivos ou meio mortos, ele responde que “Quem não está um pouco morto, não tem como estar vivo”. Ao encontro desta ideia, Clarissa Diniz complementa “Entre a umidade e o calor, o charco e o fogo, em De ontem pra hoje já era amanhã, Pedro França esboça uma atmosfera social que combina luto e transformação.”
De ontem para hoje já era amanhã
Local: Galeria Jaqueline Martins
Data: De 11 de novembro a 22 de janeiro
Endereço: R. Dr. Cesário Mota Junior, 443, São Paulo