Acabou ontem a Miami Art Week de 2019, e seu principal evento, a feira Art Basel Miami Beach. Em meio a milhares de visitantes – a feira reportou um público de 81.000 pessoas –, colecionadores de peso (vindos de 76 países), centenas de galerias, e milhões de dólares em obras de arte, a grande polêmica da edição deste ano ficou por conta a obra do artista italiano Maurizio Cattelan, exposta no estande da galeria Perrotin, de Paris.
Uma banana colada na parede por um pedaço de silvertape foi vendida no primeiro dia da feira por US$120.000, causando escândalo na mídia e filas imensas para ver a controversa escultura – no sábado, depois das aberturas para colecionadores e para convidados, a equipe de segurança da Art Basel teve que colocar unifilas na frente do estande para organizar a multidão que queria fotografar e ser fotografada com a obra. Realizado em edição de três, o trabalho intitulado “Comedian” já estava no último número, sendo negociado por US$150.000 com um museu, quando um artista da performance chegou à galeria, retirou a banana da parede e a comeu. A performance causou ainda mais confusão e, no domingo, a Perrotin removeu a obra para evitar a aglomeração de visitantes que estava colocando em risco a integridade de suas obras e de outras em outros estandes.
Outro destaque foi o novo setor Meridians, que levou para o 2o andar do Miami Beach Convention Center 34 obras de grande escala, entre esculturas, pinturas, instalações e trabalhos em vídeo. Um dos trabalhos mais visitados foi “Lina Bo Bardi: A marvellous entanglement“, de Isaac Julien – uma vídeo instalação em múltiplos canais dedicada à vida e, principalmente, à obra da arquiteta italiana radicada no Brasil responsável por alguns dos mais icônicos projetos arquitetônicos de São Paulo, incluindo o MASP e o Sesc Pompeia. Julien também pesquisou outras construções de Bo Bardi, como o Museu de Arte Moderna da Bahia, narrando a relação da arquiteta com Pierre Verger e a cultura baiana. O filme contou com a participação das atrizes Fernanda Montenegro e Fernanda Torres encenando Lina, e podia ser assistido em bancos girafa, também desenhados pela italiana.
Os relatos de vendas também foram positivos neste ano, com obras de artistas brasileiros em destaque – um meta-esquema de Hélio Oiticica foi vendido por US$600.000 na Lisson, que passou a representar o espólio do artista no mês passado. Galerias brasileiras representando brasileiros também tiveram boas vendas – a galeria Luisa Strina comercializou duas obras de Cildo Meireles, a Fortes D’Aloia & Gabriel vendeu diversas peças de Leda Catunda (que tinha um solo no estande da galeria) e a Almeida e Dale fez muito sucesso mostrando desenhos de Tarsila do Amaral, além de três pinturas – duas da fase Pau Brasil, e uma mais tardia, absolutamente distinta da estética tarsiliana, realizada no final da carreira da artista. A Bergamin & Gomide levou para a feira uma incrível obra de Tunga, uma espécie de versão miniatura da instalação True Rouge, que fica em exposição no Inhotim. A peça estava à venda por mais de US$400.000. A galeria também expôs diversas pinturas de Amadeo Luciano Lorenzato, além de um raro Bicho, de Lygia Clark, estimado em US$1.2 milhões.
Outro nome que fez sucesso foi o pintor americano Stanley Whitney: o ARTEQUEACONTECE apurou que duas de suas grandes pinturas foram vendidas por US$250.000 e US$300.000, respectivamente. No mercado secundário, a Mnuchin Gallery vendeu diversas obras da pintura Helen Frankenthaler, nome central do expressionismo abstrato norte-americano. A mais cara delas foi vendida por US$1.6 milhões. Outro artista que bateu os sete dígitos foi o alemão Georg Baselitz, cuja pintura Herdoktorfreud Grüßgott Herbootsmann, de 2011, foi vendida por US$1.1 milhões pela galeria Thaddaeus Ropac. Outras grandes vendas incluíram uma aquarela de Louise Bourgeois, duas esculturas de David Hammons e uma colagem de Rashid Johnson.
Entre os artistas mais jovens e galerias emergentes destacou-se o estande de Mariane Ibrahim, recém mudada para Chicago, vinda de Seattle. Ibrahim, em sua estréia na ABMB, no setor Nova, apostou em um solo de Amoako Boafo, pintor de Gana que teve todos os trabalhos comprados logo no início da feira. Suas pinturas estava precificadas entre US$15.000 e US$45.000. Já a fotógrafa Zanele Muholi teve obras vendidas pela galeria sul-africana Stevenson Gallery – suas fotografias impressas em fine-art começavam em US$9.000 e a série de fotos realizada em formato de papel de parede, mostrada na última Bienal de Veneza, começava em US$30.000. A galeria David Kordansky vendeu uma colagem de Lauren Halsey por US$20.000 e a Anton Kern, de Nova York, vendeu pinturas de Julie Curtiss por US$50.000.