Nenhuma brincadeira é totalmente inocente que não intervenha na visão de mundo, na formação de cultura e no modo de socialização da criança. Assim como obras interativas e suas proposições de encontrar significado por meio da participação, também não são novidade no campo da arte. O Pequeno Colecionador sabe bem de tudo isso e vem apresentando novas propostas que tensionam os limites entre arte contemporânea e brinquedo.
Pela primeira vez, o grupo encabeçado por Artur Lescher, Mariane Klettenhofer e Paula Azevedo, expande suas propostas para uma dimensão que não cabe nas mãos das crianças. Pensado para o espaço urbano, o projeto O Parque de Brinquedos Reinventados traz propostas de seis artistas brasileiros emblemáticos – Ana Maria Tavares, Artur Lescher, Raul Mourão, Rochelle Costi, Rommulo Conceição e Sandra Cinto – para compor um playground. A ideia é apresentar releituras dos brinquedos tradicionais de parque com uma camada extra de viés escultórico.A artista e arquiteta Elvira de Almeida, conhecida por suas intervenções de brinquedos em praças, parques e clubes, parece inspirar grandemente a iniciativa. Ela dizia que seus parques buscavam criar situações como possível alternativa ao comportamento consumista e passivo da criança urbana: “Um escorregador só serve para escorregar. Entretanto, se crio um elemento de formas inusitadas, que leve a sonhar e a explorar livremente o espaço, tenho um outro contexto, que transcende o monólogo do objeto utilitário, falando muito mais a linguagem da obra de arte”.
No Parque de Brinquedos Reinventados, bolas e cachorros podem atravessar a estrutura de Raul Mourão, como uma espécie de obstáculo ou como um basquete invertido, pensado para o arremesso de bolas. Inspirado pelas culturas que têm o “girar em torno de si mesmo” como uma forma de meditação, Artur Lescher apresenta o Giroscópico como redesenho do famoso gira-gira. Em Da Hora, instrumentos praticamente extintos do uso cotidiano, como um relógio de sol, a indicação de pontos cardeais e um periscópio, são prestigiados na estrutura lúdica da artista Rochelle Costi.
Para arrecadar verba e viabilizar a construção dos brinquedos-obras em praças públicas, os artistas estão vendendo os projetos para colecionadores interessados em ter um desses no seu jardim. A cada terceira venda, O Pequeno Colecionador se compromete a fazer uma doação para uma comunidade da periferia de São Paulo.
Em tempo: você também pode conferir as maquetes de cada projeto visitando a exposição na Carbono Galeria até o próximo sábado, dia 22 de outubro.