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O grito de Victoria Santa Cruz, uma mulher negra latino-americana e caribenha

Quem visitou a exposição Mulheres Radicais, que passou pela Pinacoteca de São Paulo, pelo Hammer Museum (Los Angeles) e pelo Brooklyn Museum (Nova York), ficou deslumbrado com a obra Me…

por Jamyle Rkain

Quem visitou a exposição Mulheres Radicais, que passou pela Pinacoteca de São Paulo, pelo Hammer Museum (Los Angeles) e pelo Brooklyn Museum (Nova York), ficou deslumbrado com a obra Me Gritaron Negra, de Victoria Santa Cruz. Nesta semana que precede o Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, 25 de julho, o AQA Pesquisa conta um pouco sobre a trajetória desta que é considerada a “a mãe da dança e do teatro afro-peruanos”.

A artista afro-peruana foi uma coreógrafo, poeta e ativista, que cresceu em uma família bilíngue. Sua mãe só falava espanhol, mas seu pai falava inglês e espanhol, eram também duas pessoas muito ligadas às expressões da arte. Victoria lia Shakespeare em inglês e ouvia Wagner e Puccini com sua família durante sua infância e sua adolescência, criando uma gigantesca bagagem intelectual e cultural. Isso fez com que seu amor pelas artes desabrochasse e crescesse cada vez mais e levou ela a criar, junto a seu irmão, uma companhia de teatro chamada Cumanana, em 1958.

Dois anos depois, foi morar em Paris, após ser contemplada com uma bolsa de estudos do governo francês. Ela foi, então, estudar na Universidade do Teatro das Nações e na Escola de Estudos Coreográficos, onde acabou se destacando também como estilista, criando designs para os figurinos das apresentações que encenaram as obras El retablo de don Cristóbal, de Federico García Lorca, e La rosa de papel, de Ramón María del Valle-Inclán.


Sua obra mais conhecida é uma performance visceral na qual ela declama o poema Me Gritaron Negra. No poema, ela fala sobre sua própria experiência quando tinha 7 anos e sofreu um episódio de racismo que a marcou para toda a vida. Nele, a artista “grita de volta”, empoderada, orgulhosa de suas origens e de quem se tornou, rejeitando o ataque preconceituoso, rejeitando os padrões de beleza eurocêntricos, brancos.

Quando era menina, Victoria era a única afro-peruana em seu grupo de amigos. Um dia, uma menina loira que fazia parte desse grupo disse: ‘Se o menininha negra quer brincar com a gente, eu vou embora’, contou a artista em uma entrevista. Nesse momento, ela fiz que pensou: “Quem é ela? Ela acabara de chegar e já ditava a lei”. Mas a surpresa para ela foi que os amigos concordaram com a menina e a mandaram ir embora. Esse acontecimento a impactou tanto que mudou muito a sua perspectiva de enxergar o mundo. “Essa garota estimulou algo em mim sem saber”, disse ela. A partir daí, ela conta que começou a se descobrir a vida não só como uma mulher, mas como uma mulher negra.

A artista é uma figura muito cultuada no Peru, onde nasceu em 1922 e morreu, aos 91 anos, em 2014. Ela é conhecida por produzir obras que tinham como foco recuperar e reconstruir experiências e práticas negras esquecidas no país, tendo feito, ao lado de seu irmão, um “renascimento” das expressões culturais negras no Peru. Quando voltou de seus estudos na capital francesa, ao final de 1967, ela criou a Teatro y Danzas Negras del Perú, uma companhia de artes cênicas que não foi apenas um ícone por ser referência dentro do gênero mas também porque nela Victoria realizou esse renascimento.

Toda essa sua ação e representatividade fez com que ela fosse escolhida para dirigir, em 1973, o Conjunto Nacional de Folclore do Instituto Nacional de Cultura (INC), onde ficou por dez anos, realizando uma série de apresentações por todo o mundo, de outros países latino-americanos e caribenhos até a Europa.

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