O Museu Maillol é um pequeno museu localizado no sétimo arrondissement da capital francesa que apresenta uma coleção permanente de obras do artista Aristide Maillol bem como exposições temporárias. Apesar da coleção permanente ser excelente, o que mais atrai o publico neste museu são, de fato, as exposições que vêm e vão: uma melhor do que a outra. Com curadorias impecáveis e montagens tão bem feitas que são muitas vezes imersivas, as exposições são sempre diferentes e divertidas, cada uma à sua maneira.
Com uma abordagem hiper realista, a mostra que empresta uma conhecida ideia de René Magritte é intitulada Ceci n’est pas un corps (Isto não é um corpo) e brinca com os limites entre o que é obra e o que é realidade apresentando mais de 40 esculturas de corpos humanos para lá de realistas. Em diferentes formas, tamanhos, abordagens e materiais já que o acervo aqui mostrado foi feito por vários artistas diferentes, a mostra entrega um percurso extenso e repleto de uma diversidade incrível daquilo que é, talvez, a coisa mais natural do mundo para nós: corpos humanos.
A começar pelas esculturas Two Workers e Cowboy Hay, de Duane Hanson, que logo no início do percurso parecem ser atores brincando de “estátua-viva” em uma competição infinita de “quem pisca primeiro”, mas ninguém pisca – socorro. O mais interessante foi a técnica usada por Hanson, que fez a escultura em bronze, depois pintou-a à óleo e terminou por adicionar acessórios reais à obra.
Seguindo o percurso encontramos uma série de outras esculturas realistas e outras, nem tanto, mas até mais criativas. Por exemplo a obra In the box extended, de Walter Adam Casotto, que usou escultura e caixas de papelão para brincar com o tamanho do corpo humano por ele representado. Com os pés saindo por uma das extremidades, um longo tubo de caixas de papelão justapostas se segue até a outra extremidade, onde encontramos a cabeça e tronco da escultura, que dorme tranquilamente apesar do incômodo constante dos visitantes.
Há, logo depois, uma cabeça gigante e super realista do artista Andy Warhol. Esta é a obra mais chamativa da exposição, já que todos querem ir perto da escultura e analisar todos os detalhes do rosto de Warhol, tamanha a fidelidade do trabalho de Kazu Hiro.
Na segunda metade do percurso estão as obras mais impressionantes. A primeira é a escultura de Sam Jinks, uma mulher ajoelhada e totalmente nua que, se não fosse por ter sido representada em uma escala menor do que a real, seria difícil acreditar que não é uma pessoa real. O mesmo se passa com uma velha senhora segurando um bebê, também de Jinks, que ainda traz uma visão poética sobre o corpo humano em seu início e fim. A terceira é a escultura Embrace, de Marc Sijan, que retrata um casal de idade mais avançada em um terno e tranquilo abraço enquanto seus corpos, nus, se entrelaçam e se entregam.
Além de tantas e tantas obras que permeiam este percurso, a visita a esta exposição está realmente valendo a pena – não é à toa a razoável fila que se forma na porta do museu diariamente. Mas ainda dá para ficar melhor, claro! É por isso que entre os dias 10,11 e 17 de novembro de 2022 será possível visitar a mostra completamente nu. Os corajosos e adeptos do naturismo poderão passear, ao lado de outros visitantes nus, por todo o percurso sem roupa e assim, passam a fazer parte da exposição também, já que seus corpos (não só realistas como reais) serão alvo da observação dos demais.
A ideia, que já foi sucesso em montagens anteriores da mesma exposição, é fazer com que as pessoas olhem para as próprias dúvidas e medos sobre seus corpos, que os observem, que os comparem e que participem ativamente da mostra. E aí, teria coragem?
Serviço:
Ceci n’est pas un corps
Local: Musée Maillol
Endereço: 59-61 Rue de Grenelle, Paris – França
Funcionamento: Domingo a sábado das 10h30 às 18h30
Data: Até 5 de março de 2022
Ingresso: 9-16 euros