As palavras que definem o artista Moisés Patrício são generosidade e gratidão – mas não aquela que virou # e perdeu o sentido. Pelo contrário, o artista é sincero e impressionantemente verdadeiro. Conhecido pela série Aceita? , composta por fotografias de sua própria mão oferecendo elementos descartados pela sociedade ou que expressam o contexto daquele dia, Patrício abriu sua primeira individual na galeria Estação exaltando personagens que o guiaram espiritualmente, psicologicamente e filosoficamente para que chegasse até aqui.
Principal série da mostra Exuberância, curada por Ricardo Sardenberg, Álbum de família, reúne pinturas com as quais o artista homenageia sua família espiritual, figuras atuantes na preservação e na transmissão da cultura afro-brasileira e que permanecem invisibilizadas. “Nesta série eu apresento ao mundo a minha família espiritual, a minha família biológica e as minhas raízes cultural e filosófica. São as forças e pessoas que me trouxeram até aqui”. O artista cita, por exemplo, Dona Ceci, pessoa fundamental até hoje no campo da história oral e que colaborou com Pierre Verger ao fazer a ponte do fotógrafo com o Candomblé. Ela é, segundo o artista, uma figura importantíssima por ensinar por meio de histórias sagradas. Ainda ressaltando o respeito aos mestres e ancestrais, Patrício cria a série Homenagem ao Mestre Didi , ressaltando o papel do artista e sacerdote que o ensinou sobre o valor do coletivo e reverenciava as iabás, orixás femininos. “Ele sempre valorizou as mulheres que comandaram e mantiveram a tradição do candomblé no Brasil”, revela o artista.
Segundo Sardenberg, as séries ressaltam a formação do artista por meio de vivências reguladas pelo próprio âmbito familiar “onde as relações são baseadas no respeito aos mais velhos, à iniciação, à partilha, e à reprodução do saber”. No centro da galeria, é possível encontrar a série Brasilidade, composta por as esculturas em concreto e barro que simbolizam a violência do encontro entre a cultura africana e a ocidental. “Esta exposição é exaltação da cultura negra e da minha existência. Queria homenagear todos meus ancestrais que lutaram e deram as suas vidas para me garantir essa voz. Principalmente a grande divindade, o orixá Exu”, conclui o artista frente a uma tela amarela que retrata uma escultura de Exu. “Exu é o orixá mensageiro e o amarelo foi uma cor muito usada na campanha contra a ditadura. Portanto, essa tela expressa a resistência contra o retrocesso que estamos vivendo no Brasil”.