Artista em bastante acensão, o carioca Maxwell Alexandre ganha uma exposição na sede da galeria David Zwirner, em Londres, a partir do dia 2 de dezembro até o final de janeiro. Programada para abrir em novembro, ela foi adiada por conta do lockdown temporário decretado em razão da nova onda da Covid-19 que assola a Europa.
A mostra, intitulada Pardo é Papel: Close a door to open a window será composta por novos trabalhos de uma já célebre série que o artista vem tem dado andamento há alguns anos, a Pardo é Papel. A exposição também conta com uma espécie de viewing room no site da galeria.
O título tem a palavra “pardo”, que se refere tanto ao papel que ele utiliza como suporte para suas pinturas quanto para a “categoria” designada pelo censo geográfico para se referir a pessoas brasileiras miscigenadas. Essa é a primeira vez que ele expõe em Londres. Maxwell já apresentou trabalhos desta série O Museu de Arte Contemporânea de Lyon, no Museu de Arte do Rio e na Fundação Iberê Camargo.
O trabalho de Maxwell, que foi criado e mora na favela da Rocinha, tem uma presença forte de elementos que estão em sua volta nessa região, como o crime organizado, a igreja evangélica e a aparato de violência estatal que controlam as favelas da cidade. “O artista torna visíveis as principais autoridades que moldam a vida de seus habitantes negros e amplifica os símbolos do cotidiano que servem como demonstrações de força e resiliência”, diz texto da mostra.
Processo contínuo, a série será mostrada agora em novas obras e de uma forma diferente, como um “álbum” funciona para um músico. Isso porque ele tem destacado em suas pinturas o impacto da música, especialmente do hip-hop, na narrativa negra contemporânea, com uma linguagem própria de representatividade, orgulho e autodeterminação.
Nesta mostra em Londres ele apresenta obras que foram de certa forma influenciadas por rappers brasileiros, de diferentes regiões do país: Baco Exu do Blues, da Bahia; Djonga, de Minas Gerais, e BK ’do Rio de Janeiro. Os títulos das obras expostas também têm vínculo com a música de artistas pops negros que têm participado da luta antirracista, como Tyler, the Creator (que empresta verso de música para o título da mosta), Solange e Frank Ocean.
Em trecho de conversa com Matthieu Lelièvre em 2019, citado ao longo da viewing room no site da galeria, o artista explica: “Onde eu moro, na favela da Rocinha, a arte contemporânea não é uma mercadoria; dificilmente alguém está interessado nele ou sabe do que se trata. Portanto, pintar letras de rap também é uma forma de tentar preencher essa lacuna. Isso dá ao meu trabalho a chance de envolver o interesse dos membros da minha comunidade.”