A pintora estadunidense Mary Cassatt pode não ter sido uma feminista mais radical, mas suas realizações e o leitmotif de seus trabalhos são inegavelmente coisas que abriram caminhos para as mulheres no mundo da arte. Para começar, foi uma das pintoras impressionistas de maior expressão (hehehe) ao lado das francesas Berthe Morisot e Eva Gonzalès. Seu compromisso com as pautas feministas iam muito além de seu ofício de artista, sendo uma defensora árdua do sufrágio feminino, da educação e oportunidades de trabalho igualitárias para ambos os sexos e também do compromisso igualitário de se cuidar dos filhos.
Por Cassatt pintar mulheres e crianças com um tom de “doçura” e sob uma perspectiva de “feminilidade”, muitos defendem que apesar de feminista nas questões sociais, ela não era feminista em seu trabalho. Não é verdade. Cassatt não teve nenhum receio de, por exemplo, pintar uma mulher amamentando, com o seio nu. E isso mais de uma vez.
Retratar mulheres lendo também era algo muito comum em seus trabalhos, o que era um grito mais do que nítido em favor do acesso à educação. Além de que não eram apenas leituras de livros, que poderiam ser vistas apenas como mero entretenimento de dona de casa, mas também de jornais, mostrando que essas mulheres também tinham fome de informação, de enxergar o mundo para além do espaço privado ao qual elas eram submetidas.
Esse ímpeto revolucionário não era só temático em seu ofício, nessa liberdade em amamentar sem tabu e no direito a uma escolaridade que fosse também profissionalizante, mas era também em um espírito de atuação. Afinal, a mulher mais importante do movimento impressionista nas Américas é, no mínimo, uma pioneira, que abriu as portas para as que vieram depois. Ser uma mulher artista naqueles tempos, atuando profissionalmente como pintora, era algo muito restrito. E Mary foi.
Os que alegam que Cassatt pintava apenas mães com seus bebês e veem puramente o que está na imagem não enxergam a reflexão que isso levanta, que é mais sobre o que está ausente na imagem. Vamos lá: Se só há mães com os bebês, onde estão os pais? Eles não participam da vida dos filhos? Por quê? E por que estritamente as mães devem ser responsáveis pelos cuidados das crianças?
Mas não é (só) isso que faz de Mary Cassatt uma artista que todos devem conhecer. Afinal, não foi propriamente por isso que ela se tornou um dos maiores nomes do movimento expressionista, mas sim por sua habilidade técnica notável e fascinante, que não se restringiam só apenas a óleo sobre tela, também englobavam pastéis, estampas e águas-fortes. É sabido que esse tipo de habilidade de representar a forma humana no espaço tridimensional que ela tinha, fazendo-o com tamanha precisão, era limitada a poucos artistas.
Essa mulher que nasceu em 1844, nos Estados Unidos, e morreu em 1926, na França, tem também uma particularidade muito intrigante. É uma das artistas mais conhecidas no mundo por pintar cachorros. Isso mesmo, Cassatt mostrava os bichinhos caninos como o melhor amigo da mulher, e também das crianças.
Cassatt estudou na Academia de Belas Artes da Pensilvânia na Filadélfia entre 1860 e 1864. Mas existe outro fator muito admirável na biografia dela: ela foi autodidata, tendo estudado os antigos mestres de forma independente. Tempos depois, foi convidada por Edgar Degas para participar de um grupo progressista de pintores impressionistas na França, lá pode desenvolver ainda mais suas habilidades e aquilo que havia aprendido por si só.