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Marta Minujín inaugura maior mostra já realizada no Brasil

Artista argentina conhecida pela pop art também propõe a união da América Latina e questiona o significado de grandes monumentos

por Giovana Nacca
Marta Minujín: Ao Vivo, na Pinacoteca de São Paulo
Marta Minujín: Ao Vivo, na Pinacoteca de São Paulo

Um dos maiores fenômenos da arte argentina, Marta Minujín é reconhecida como a ícone da arte pop e da arte participativa – sempre transitando entre diversas linguagens, escalas e temas de pesquisa. A exposição panorâmica “Marta Minujín: Ao Vivo”, na Pinacoteca de São Paulo, que abre ao público amanhã, dia 29 de julho, traz pela primeira vez ao Brasil um recorte dos diferentes temas desenvolvidos pela artista e reúne trabalhos icônicos recriados especialmente para a ocasião.

Sobre o nome da mostra, a curadora Ana Maria Maia comenta: “‘Ao vivo’ é uma expressão que sinaliza vivacidade, presença de corpo, e de maneira ainda mais direta, denota um recurso de comunicação urgente no vocabulário da mídia de massa, plataforma discursiva e tecnológica que sempre atraiu a artista. Seja nas transmissões de rádio e TV na década de 1960 ou em seu canal de Instagram hoje, Marta cria arte como um pretexto para ela própria e para todas as pessoas poderem expressar-se com energia e liberdade.”

Em toda a sua produção, mesmo que afamada por seus materiais volumétricos e instalativos, é impossível dissociar o trabalho de Minujín da linguagem pictórica. Ainda nos anos 1960, ela se apropria de materiais cotidianos e industriais para produzir suas “pinturas” – caso das obras feitas com colchões retorcidos e pintados com cores vibrantes. Nesse sentido, é interessante pensar na relação que o museu propõe na primeira sala do percurso expositivo, trazendo uma reinterpretação de uma “pinacoteca” – uma coleção de pinturas – com suas obras moles e psicodélicas. Sobre a escolha do material, a artista explica que, além de contrapor com a ideia de um tecido esticado em uma estrutura rígida de canvas, ele carrega grande simbologia: “nascemos e morremos nos colchões”. 

A artista propõe, ainda, uma arte dinâmica para além dos efeitos da Op Art: na mostra você encontra telas que literalmente se mexem, seja por um motor embutido na tela ou pela projeção de um vídeo sobre a pintura.

Marta Minujín: Ao Vivo, na Pinacoteca de São Paulo Créditos: Levi Fanan
“Galeria Blanda” na Pinacoteca de São Paulo. Créditos: Levi Fanan.

Depois de explorar os limites de diferentes linguagens artísticas,  Minujín subverte o próprio espaço expositivo. A “Galeria Blanda” [“Galeria Mole”, em tradução livre], criada em 1973, é um ambiente composto por 200 colchões que faz referência ao “cubo branco”, mas, ao contrário do modelo modernista, instiga o visitante a explorar o toque e a experimentação.

Minujín se destaca em uma geração de artistas que pesquisa o fenômeno de uma midiatização crescente. Em “El batacazo”, icônica uma instalação criada em 1965, ela apresenta ao espectador, de forma lúdica, quatro estereótipos das mídia de massa: jogadores de rúgbi; playboys; cosmonautas; e, as glamourosas atrizes da época. A versão brasileira apresentada no museu comenta sobre os jogadores de futebol (prepare-se para encontrar uma versão inflável de Neymar e Messi) e as grandes atrizes  – aqui, o visitante vai descer por um tobogã e se deparar com uma enorme Virna Lisi. 

Mas não se deixe enganar pela ludicidade de suas proposições, afinal esse é o caminho que destina suas críticas políticas. A proliferação de ditaduras militares pela América Latina, durante os anos 1970, a levou à práticas artísticas voltadas para a conscientização de uma realidade sociopolítica e para um projeto de integração entre os países da região. 

El pago de la deuda externa argentina con maíz, Marta Minujín e Andy Warhol

Um mês após o segundo golpe militar argentino, em abril de 1976, a artista passou a planejar a instalação “Comunicando con tierra”, que consistiu em uma série de ações colaborativas. Primeiro, ela coletou 23 sacos de um quilo do solo de Machu Picchu e os enviou a diferentes artistas latino-americanos, incluindo os brasileiros Hélio Oiticica e José Roberto Aguilar, que mesclaram o material recebido com a terra de seus próprios países e, então, o enviaram de volta. A partir do material recebido, Minujín devolveu uma parte à Machu Picchu e usou outra para construir um ninho de joão-de-barro gigante, a ponto de um visitante poder adentrá-lo e conferir a vídeo-performance da artista sendo coberta por terra.

Vista da exposição “Marta Minujín: Ao Vivo”. Créditos: Levi Fanan.

No trabalho “El pago de la deuda externa argentina con maíz”, Minujín propõe o pagamento da dívida externa de seu país com milho – “o ouro latino-americano”, segundo a artista. A obra é composta por uma série de retratos de Marta, representando a Argentina, e Andy Warhol, representando os Estados Unidos, encenando uma espécie de negociação do milho-moeda. Seguindo a mesma lógica, ela idealizou outra performance presente na exposição: em 1986, contratou uma sósia de Margaret Tatcher para encenar outra negociação da dívida externa.

Uma das séries mais célebres obras de Marta é “La caída de los mitos universales”, na qual ela propõe uma reflexão sobre a simbologia de grandes monumentos como o famoso obelisco na praça da República, em Buenos Aires; a estátua da Liberdade, em Nova York; e, o Panteão, na Grécia. Dentre estes, o mais importante é, talvez, “El Partenón de libros”. Em 1983, ela recriou, na Avenida 9 de Julio de Buenos Aires, o Panteão grego usando uma estrutura de metal preenchida por livros que foram proibidos durante a ditadura argentina que acabara de colapsar. Esta obra foi montada novamente em 2017, em Kassel, durante a Documenta – desta vez, ela construiu o Panteão com livros proibidos em diferentes nações do mundo e, em alguns casos, ainda até hoje. 

Marta Minujín, “El Partenón de libros”

Serviço:

Marta Minujín: Ao Vivo

Data: 29 de julho de 2023 até 28 de janeiro de 2024
Local: Pinacoteca Luz
Funcionamento: De quarta a segunda, das 10h às 18h (entrada até 17h). Quintas-feiras com horário estendido B3 na Pina Luz, das 10h às 20h (gratuito a partir das 18h)
Ingresso: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia-entrada), ingresso único com acesso aos três edifícios | Gratuitos aos sábados

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