Setenta anos depois, o MAM São Paulo revisita a mostra que marcou o início da arte concreta no Brasil realizada pelo grupo Ruptura no museu em 1952 — e que durou apenas 12 dias. Ruptura e o grupo: abstração e arte concreta, 70 anos inaugura no dia 2.4, sábado, e conta com a curadoria de Heloisa Espada e Yuri Quevedo.
Naquela ocasião, o Ruptura lançou um manifesto homônimo que criticava a figuração e, sem mencionar a abstração ou a arte concreta, apontava para essas linguagens como sendo o novo na arte. Os integrantes propunham a “renovação dos valores essenciais da arte visual” por meio de pesquisas geométricas, aproximando arte e indústria.
Segundo Espada, “Olhar para o grupo Ruptura hoje não significa aderir sem crítica às ideias apresentadas nos anos 1950, mas considerar as circunstâncias de seu aparecimento, assim como as várias contradições entre o que os artistas escreviam e aquilo que eles faziam. Ainda assim, a pesquisa visual desses artistas tinha uma conotação libertária, pois se propunha a imaginar novas formas de organizar o mundo no pós-guerra”.
Ao longo da década de 1950, os participantes do Ruptura foram: Anatol Wladyslaw, Geraldo de Barros, Hermelindo Fiaminghi, Kazmer Féjer, Leopold Haar, Lothar Charoux, Luiz Sacilotto, Maurício Nogueira Lima e Waldemar Cordeiro, líder e principal teórico. Única mulher a participar do grupo, Judith Lauand ganhará uma individual no Masp em novembro deste ano.
O coletivo defendia uma arte não figurativa. Para os integrantes, apenas cores, linhas e formas eram reais, pois não simulavam nenhuma aparência. Eles aderiram à repetição e às leis da teoria da percepção conhecida como Gestalt, criando uma sensação de movimento e ritmo visual em seus trabalhos.
A nova exposição pretende apresentar uma releitura crítica do legado da arte construtiva no Brasil. Primeiro, retoma a mostra original por meio de documentos e obras, entre elas duas pinturas que estiveram no MAM em 1952 e realizadas neste mesmo ano: Desenvolvimento ótico da espiral de Arquimedes, de Waldemar Cordeiro, e Vibrações verticais, de Luiz Sacilotto.
Depois, aborda a produção do grupo durante os anos 1950, quando alguns artistas se afastaram e novos nomes se aproximaram do grupo, como Judith Lauand. “Há uma discussão se o grupo Ruptura existiu como tal apenas na exposição de 1952, ou se ele tem uma duração mais longa. Essa dúvida se esclarece quando lemos os depoimentos dos artistas que entraram depois, e seguiram se referindo a eles mesmos como parte do Ruptura. Também percebemos a proximidade ao olhar para as obras, porque há entre elas uma coerência de preocupações e uma coincidência dos problemas que enfrentam”, explica Yuri Quevedo.
Destaque para obras de Leopold Haar raramente vistas que estarão na exposição. “Haar é um dos artistas que melhor exemplifica a proposta do Ruptura de que a arte deveria ter uma aplicação prática na vida das pessoas”, explica Espada. Quevedo acrescenta que “O grupo defendia a abstração como projeto de transformação, capaz de permear o cotidiano das pessoas, influenciando a indústria e organizando a vida em suas mais diversas escalas: das artes plásticas ao design, da arquitetura à cidade.”
Em diálogo direto, o MAM abriga até junho a exposição Samson Flexor: além do moderno, precursor da abstração brasileira e mestre de nomes como Anatol Wladyslaw.
Ruptura e o grupo: abstração e arte concreta, 70 anos
Data: 2 de abril a 3 de julho de 2022
Local: MAM São Paulo
Endereço: Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portões 1 e 3)
Funcionamento: terça a domingo, das 10h às 18h (com a última entrada às 17h30)
Ingresso: R$25 (grátis aos domingos)
Agendamento prévio pelo link