O MAC Niterói apresenta três novas exposições: “Abdias Nascimento: um espírito libertador”, do artista Abdias Nascimento (1914 – 2011), no Salão Principal; “O país ocupado”, da importante coleção João Sattamini, que conta com obras de Antonio Dias (1944-2018), Antonio Manuel (1947-), Ivan Serpa (1923-1973) e Rubens Gerchman(1942-2008); e “Farol”, do dominicano Engel Leonardo, na varanda. Pablo Leon de La Barra e Raphael Fonseca assinam a curadoria.
“Abdias Nascimento: um espírito libertador”, obras do artista Abdias Nascimento
Trata-se da maior exposição já realizada da produção de pintura do ativista, político, professor, ator e teatrólogo Abdias Nascimento – importante nome para a história do movimento negro no Brasil e no mundo. Possuía também uma constante produção como artista visual em especial no campo da pintura. Nas cinco paredes do Salão Principal, serão mais de trinta obras produzidas por ele em um arco temporal que vai desde as décadas de 1960 até o final de 1990. “Entre os temas explorados, é visível o estudo e representação não apenas do corpo humano negro, mas especialmente das muitas narrativas advindas das religiões africanas e afro-brasileiras”, explica Raphael Fonseca. Grande parte de suas pinturas diz respeito à representação de orixás e, é constante nas suas imagens,as presenças de Iemanjá, Xangô, Ogum, Oxossi e Exu. Tendo vivido mais de dez anos nos Estados Unidos, é possível encontrar, ainda, uma série de obras que tratam desse encontro com a cultura norte-americana e com o movimento negro já solidificado ali. Por fim, uma série de pinturas dialogam com as tradições dos adinkras, símbolos ideográficos encontrados em parte de Gana e da Costa do Marfim e que, nas pinturas de Abdias, aparecem como elementos entre a abstração e a comunicação não-verbal. Uma série de documentos (em sua maioria cartazes, entrevistas e fotografias) também compõem o aspecto documental da mostra.
“O país ocupado”, obras de Antonio Dias, Antonio Manuel, Ivan Serpa e Rubens Gerchman, da coleção João Sattamini
Uma homenagem ao legado de João Sattamini, importante colecionador de obras de arte, que faleceu no ano passado, aos 83 anos. O título da exposição faz referência a uma obra de Antonio Dias – também falecido recentemente – e que faz parte da coleção: “O país ocupado”. Cada uma das seções do andar foi dedicada a um dos 4 artistas – todos importantes para a recente história da arte no Brasil e, em especial, no Rio de Janeiro. Muito ativos nos anos de 1960, cada um enfrentou de uma maneira a repressão do governo ditatorial no país e respondeu de maneira formalmente distinta. “Ivan Serpa, o mais velho deles e até mesmo professor de Manuel, possui uma pesquisa que se transforma de acordo com o tempo – de abstração à figuração expressionista, sua obra tem um caráter camaleônico. Antonio Dias desenvolveu um trabalho em que mapas conceituais respondiam de maneira sutil à violência dessas décadas sob o governo militar. Já Antonio Manuel se valeu da utilização dos jornais como elemento poético em sua obra e refletiu mais explícita sobre a violência. Por fim, Rubens Gerchman e sua produção permeada de humor e de diálogo mais claro com a pop art criava narrativas urbanas que ainda fazem muito sentido para cidades movimentadas como o Rio de Janeiro e Niterói”. Será exibido também o filme VER OUVIR, curta-metragem de autoria de Antonio Carlos da Fontoura e que acompanha a produção de Antonio Dias e Rubens Gerchman, além de Roberto Magalhães, também artista parceiro geracional.
“Farol”, do artista Engel Leonardo
Na varanda do museu, uma exposição de trabalhos recentes do artista Engel Leonardo (nascido em Baní, na República Dominicana e atualmente residente em Santo Domingo). “Farol” relembra um episódio acontecido na história do urbanismo de Santo Domingo: um concurso foi aberto em 1928 para a construção de um monumento dedicado ao “descobrimento” das Américas. Flávio de Carvalho foi um dos artistas-arquitetos que submeteu um projeto precisamente de um Farol que trazia elementos extraídos de outros arquitetos e artistas modernos, assim como de seu próprio repertório. O projeto não foi vencedor, mas recebeu uma menção honrosa e foi reconhecido em publicações da época. O que Engel Leonardo propõe para o MAC Niterói é a mostra de uma série de esculturas coloridas que tem sua origem nos desenhos de Flávio de Carvalho. Tendo a sua varanda como lugar privilegiado – e que certamente faz recordar do uso panorâmico de um farol – cada uma das seções do prédio receberá uma escultura que vem dos diversos elementos extraídos do projeto de Carvalho: porta e azulejos, além dos guacos e palmeiras desenhados pelo arquiteto brasileiro. Dessa maneira, assim como em toda a prática de Engel Leonardo, um episódio preciso da história da arquitetura é recodificado em uma série de outros trabalhos que estão no limite entre o design e a escultura, sempre levando em consideração as especificidades dos novos prédios que ocupam.
Abdias Nascimento: um espírito libertador
O país ocupado – Coleção João Sattamini
Farol: Engel Leonardo
Curadoria: Pablo Leon de La Barra e Raphael Fonseca
Abertura: 13/04/19, 10h
Visitação: até 04/08/19; terça a domingo, 10h-18h
MAC Niterói: Mirante da Boa Viagem, sem número, Niterói. Ingressos: R$ 10 (inteira).