Louise Bourgeois (1911-2010) chega com tudo em 2022. A artista franco-americana irá protagonizar três grandes exposições internacionais neste ano: na Hayward Gallery, Londres, no Kunstmuseum Basel, Basileia, e no MET, Nova York.
Bourgeois, cuja profícua produção artística está intrinsecamente ligada à sua trajetória pessoal, demorou para alcançar o reconhecimento que possui atualmente — mesmo tendo produzido durante a maior parte de sua vida e em diferentes formatos: desenho, escultura, gravura, bordado e instalações.
Aranhas
Hoje, é difícil, entre aqueles que gostam e acompanham as artes visuais, quem não conheça os gigantescos aracnídeos produzidos por Bourgeois. A versão que pertence ao Itaú Cultural (que possui 3 metros de altura e mais de 200 kg) ficou exposta por 21 anos na marquise do MAM até se despedir, em 2018, para viajar pelo Brasil.
Assustadoras à primeira vista, as aranhas de Bourgeois (que surgiram primeiro como desenho e depois se transformaram em escultura) têm significados mais profundos e controversos. Estes pequeninos e aparentemente frágeis animais são tecelões incansáveis; são protetores, mas também causam medo.
Imaginário de Louise Bourgeois
No imaginário “Bourgeoisniano” representam sua mãe, responsável pela loja de restauração de tapeçarias da família e aquela que suportou por anos as infidelidades do marido, pai de Bourgeois, mas também fazem referência a ela própria — as aranhas produzem a partir do seu próprio corpo, como ela.
A artista enveredou para o mundo artístico depois da morte da progenitora, que ocorreu enquanto ela estudava matemática na Sorbonne. Em 1938, mudou-se com o marido Robert Goldwater, historiador de arte, para Nova York, onde viveu o resto de sua vida.
Esse tipo de metáfora é comum em sua obra; no início dela, fazia desenhos de prédios e arranha-céus representando seus estados emocionais. “Podemos dizer que seu trabalho, no início, era lidando com a figura de seu pai e, no final, com a figura da mãe”, disse o amigo e assistente Jerry Gorovoy em entrevista para um vídeo produzido pela Tate há alguns anos.
Prisioneira de memórias
“Sou prisioneira das minhas memórias e meu objetivo é me livrar delas”, disse certa vez. Ela descobriu, na arte, uma maneira de sublimar seus traumas e de transformar “ódio em amor”, como afirmou.
Os clássicos, segundo Ítalo Calvino, são considerados clássicos porque nunca terminam aquilo que têm pra dizer. Ele falava sobre livros, mas a mesma teoria pode ser aplicada aos artistas. Bourgeois evocava temas universais. A vida, o amor, o desejo, a rejeição, o ciúmes, o sofrimento e a morte — e o seu próprio fazer artístico, o de fazer, falhar e refazer— são assuntos que nunca se esgotam. Como é possível perceber nas abordagens das exposições abaixo, ainda há muito a ser explorado.
Hayward Gallery, Londres (Reino Unido)
Louise Bourgeois: The Woven Child
9 de fevereiro a 15 de maio
Anunciada como a primeira grande exposição da artista que foca, exclusivamente, seus trabalhos com tecidos. Nos seus últimos 20 anos de produção, tramas provenientes de roupas de cama, lenços e bordados foram incorporados por Bourgeois em instalações, esculturas e colagens. Continuou, com os tecidos, explorando temas como identidade, sexualidade, trauma, memória, culpa e reparação, centrais em sua carreira. “Sempre tive fascínio pelo poder mágico da agulha. A agulha é usada para reparar o dano. É uma reivindicação pelo perdão”, disse a artista. Sua decisão de criar a partir de roupas e outros tecidos foi uma forma de transformar e, ao mesmo tempo, preservar seu passado, segundo o material de divulgação da mostra. Ela via ações como cortar, rasgar e costurar de maneira metafórica, relacionado-as a noções de separação e aproximação, por exemplo. Louise Bourgeois: The Woven Child tem o objetivo de resumir esse capítulo final da produção da artista, tão inventivo e coerente quanto todo o restante de sua obra. A curadoria é de Ralph Rugoff, Katie Guggenheim e Marie-Charlotte Carrier.
Kunstmuseum Basel, Basileia (Suiça)
Louise Bourgeois x Jenny Holzer
The Violence of Handwriting Across a Page
19 de fevereiro a 15 de maio
Bourgeois vista pelos olhos da artista Jenny Holzer. Essa é a proposta da exposição, e a perspectiva escolhida por Holzer foi a da palavra escrita. Não é difícil entender o porquê: Holzer é conhecida por explorar e subverter a linguagem por meio de sinais de rua, camisetas, projeções e LEDs. A pesquisa de Holzer para escolher as obras que estarão expostas partiu do vasto arquivo escrito de Bourgeois, que contempla diários, cartas e escritos psicanalíticos — escrita que, muitas vezes, transbordava para suas obras. Durante a primeira semana da exposição, trechos de escritos de Bourgeois serão projetados em fachadas de edifícios públicos da Basileia. A curadoria é de Jenny Holzer e Anita Haldemann.
The MET, Nova York (Estados Unidos)
Louise Bourgeois Paintings
12 de abril a 7 de agosto
Primeira exposição abrangente com pinturas de Bourgeois produzidas entre sua chegada a NY, em 1938, e 1940, quando se voltou para a escultura, segundo o MET. Apesar de conhecida por suas esculturas, o museu argumenta que foi na sua produção inicial que sua voz artística emergiu, estabelecendo um grupo de motivos visuais que ela continuaria a explorar e desenvolver durante sua trajetória. Ancorada em novas pesquisas, a mostra joga luz sobre esse capítulo pouco conhecido da artista.