Livros AQA: Why Have There Been No Great Women Artists?

Reedição de aniversário em comemoração 50º aniversário da primeira publicação de livro pioneiro da teoria feminista na arte nos convoca a retornar à pergunta-título e pensar sobre o que mudou nesse período

por Jamyle Rkain
3 minuto(s)

“Por que não existiram grandes artistas mulheres?”. Lá se foram 50 anos desde que este título provocativo e bastante chocante estampou as páginas da edição da revista ARTnews em 1971, anunciando um texto da historiadora da arte Linda Nochlin. No mesmo ano, foi publicado em livro, mas sendo o subtítulo de Art and Sexual Politics. O ensaio havia sido anteriormente publicado no livro Woman in sexist society; studies in power and powerlessness, que compilou textos de 30 mulheres escritoras e acadêmicas acerca do sexismo.

Considerado bastante polêmico na época, seu objetivo não era realmente responder à pergunta que trazia na capa, como muitos poderiam imaginar. Ao invés disso, a autora procurou desmantelar aquilo que um grupo quase essencialmente masculino e branco havia construído como “conceito” para estabelecer o que levava um artista a ser “grande”.

Em seus estudos, Nochlin percebeu que, embora as pessoas conseguissem citar algumas artistas mulheres que produziram obras consideradas canônicas ao longo da História, as citadas eram sempre as mesmas. Havia uma limitação, uma barreira de um repertório muito escasso mesmo entre estudiosos e pessoas que trabalhavam diretamente com arte. Artemisia Gentileschi, Louise Bourgeois, Mary Cassatt, Frida Kahlo, Georgia O’Keeffe, Marina Abramović e outros, no máximo, cinco nomes eram tão somente aquilo que as pessoas conseguiam elencar.

A reedição de aniversário de Why Have There Been No Great Women Artists?, que infelizmente ainda não tem uma versão publicada em português no Brasil, vem não só para comemorar os 50 anos, mas também para provocar novamente, incitando-nos a refletir sobre o seguinte aspecto: Agora, meia década depois e com tecnologias e aparatos diversos que ajudaram a acelerar e expandir o conhecimento e a divulgação de artistas para além de ambiente restrito ao aprendizado sobre arte, o quanto será que isso mudou?

Nesse sentido, o livro é atualizado trazendo também um texto que Nochlin, falecida em 2017, publicou em 2006 e que funcionou como uma espécie de “reavaliação” do que abordou no livro, Thirty Years After. Nesse artigo, Nochlin pontua alguns dos objetivos que foram alcançados pelo movimento feminista na arte ao longo dos 30 anos avaliados à época, no qual ela pondera também metas futuras.

Por isso também, é imprescindível que a leitura deste volume seja feita considerando uma reavaliação contemporânea. Isso vale tanto pro agora como para daqui 5, 10, 25 ou mais 50 anos. O livro pede, em sua própria essência, que esse exercício do olhar para o passado e examinar o presente (obviamente considerando as particularidades do momento vivido) seja feito.

Marie Denise Villers, Marie Joséphine Charlotte du Val d’Ognes, 1801


Publicada no último mês de fevereiro nos EUA pela Thames & Hudson, a edição que agora tem capa dura traz em destaque um detalhe aproximado da obra Marie Joséphine Charlotte du Val d’Ognes da pintora francesa Marie Denise Villers, produzido em 1801. Trazer essa obra na capa também é uma forma de desafiar o leitor e suscitar questionamentos. Afinal, quem citaria Villers como uma grande artista? Quem a colocaria no cânone? Dificilmente esta que foi uma das maiores retratistas da virada do século 16 para o 17 seria pontuada nesses casos.

Nas 112 páginas no livro, vigoram também 13 imagens de obras de artistas que são muito importantes para entender toda a reflexão acerca do que ele propõe. Um marco da teoria feminista na arte, o texto é considerado pioneiro para os estudos de gênero no ramo e rendeu à Nochlin o título de “inventora da história da arte feminista” pelo The New York Times.

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