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Livros AQA: Latinx Art: Artists/Markets/Politics

Enquanto discussões sobre a construção de um muro que dividiria o México dos Estados Unidos ainda segue em pauta – por mais bizarro que isso pareça -, muitos declaram que…

por Beta Germano

Enquanto discussões sobre a construção de um muro que dividiria o México dos Estados Unidos ainda segue em pauta – por mais bizarro que isso pareça -, muitos declaram que “o futuro é Latinx”. Mas o que significa isso? “Latinx” é um termo que atualiza rótulos tradicionais (e um tanto limitadores), como “hispânico” ou “latino”, que surgiram em meados do século XX para descrever as comunidades de migrantes latino-americanos nos Estados Unidos. Refere-se a indivíduos de origem latino-americana ( incluindo o Brasil e países do Caribe com colonização não hispânica) que vivem nos Estados Unidos e que não se identificam com o binário de gênero. Este mês, a antropóloga Arlene Dávila lança o livro Latinx Art: Artists/Markets/Politics para mostrar a invisibilidade destes artistas e subvalorização a chamada “Latinx Art”. Em seu livro, publicado pela Duke University Press, Dávila escreve sobre o que significa o termo “Latinx Art”, como ele é diferente da arte latino-americana (e por que a junção das duas pode ser problemática) e como as exibições de arte em geral alimentam a criação de um mercado racista. 

Latinx Art: Artists/Markets/Politics
Latinx Art: Artists/Markets/Politics

O termo “hispânico” foi adotado nos anos setenta para denominar comunidades cuja língua e herança histórica estavam associadas à Espanha. O termo “latino” – que teve maior aceitação na comunidade latino-americana – transcendeu a barreira linguística ao incluir, tanto do ponto de vista geográfico, os grupos de língua espanhola, como também comunidades que se comunicam por meio do português, do inglês e também dos dialetos indígenas. Posteriormente, procurou-se criar um espaço inclusivo, feminino e masculino, eliminando o “o”ou o “a”.  É uma terminologia flexível que não requer uma definição, mas abre outra categoria de (auto) identificação para pessoas que se identificam com o binário masculino-feminino.

É um termo que busca a inclusão máxima: “Latinx” inclui também pessoas que nasceram, foram educadas ou naturalizadas nos Estados Unidos; portanto, sua fala reflete o cruzamento entre espanhol e inglês, entre outras combinações possíveis. Gera, portanto, discussões muito interessantes sobre as formas de acesso e consumo artístico para uma comunidade que vive entre dois, três ou mais ambientes culturais nos Estados Unidos.

David Antonio Cruz
soletthemeatasylumpink, de David Antonio Cruz

“Nesse contexto, estava muito claro que as questões de mercado eram fundamentais, mas pareciam ser o elefante na sala. Foi a única questão importante que ninguém abordou diretamente. Como Antropóloga, sempre me interessei por questões de economia cultural, indústria e na relação entre cultura e capitalismo”, explica a autora ao Artnews. “Há um silêncio educado em torno de questões de mercado, assim como há um silêncio educado em torno de questões raciais”, continua.

“Latinx” é um conceito que não pertence à América Latina, nem pretende definir os processos artísticos ou sociais da região. No entanto, facilita a inclusão desses debates no discurso sobre a América Latina e a diáspora latino-americana. No artigo O artista mais caro da América é Latinx – mas ninguém sabe disso, por exemplo, Naiomy Guerrero propõe uma revisão da biografia de alguns artistas como Carmen Herrera ou Jean-Michel Basquiat para ressaltar a perspectiva “Latinx”. Segundo a autora, Basquiat é conhecido principalmente como um artista afro-americano, embora seu pai tenha nascido no Haiti e sua mãe seja descendente de porto-riquenhos. O posicionamento exclusivo de Basquiat como artista negro, acrescenta Guerrero, demonstra a contínua invisibilidade dos artistas “latinx” no mercado de arte, bem como a ausência histórica de pesquisas sobre a experiência latino-americana nos Estados Unidos. 

Guadalupe Maravilla
Motorpsycho, de Guadalupe Maravilla

Portanto, no contexto artístico, o termo inclui um grupo heterogêneo de artistas marcados pela migração, multilinguismo e crioulização, cuja obra ilustra identidades mistas de origens diversas. “Latinx” é um conceito socialmente construído e um produto das condições de marginalização da comunidade designada. “Quando falamos sobre artistas Latinx, também estamos falando sobre artistas que são imigrantes nos Estados Unidos; muitos deles são sonhadores, nem todos nascem e são criados nos EUA. É fundamental entender isso quando falamos de artistas Latinx, muitos são negros e pardos e não têm o que chamo de “privilégio nacional” – uma conexão com um país latino-americano”, explica a autora ao revelar que a  cidade de Nova York é quase 28% Latinx e sugerir que precisamos saber sobre esses artistas. “Existe esse mito no mundo da arte de que raça não importa, identidade não importa. Qualidade é qualidade, e devemos olhar para os artistas apenas com base em seu trabalho. Claro, isso é pateticamente falso, mas as pessoas andam dizendo isso para manter e defender o mundo da arte masculina branca”, conclui.

Lucia Hierro
Mercado, de Lucia Hierro
Lindo colores, de Juan Sánchez
Lindo colores, de Juan Sánchez
Female with Mulehip, de Alicia Grullón
Female with Mulehip, de Alicia Grullón

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