Livros AQA: In the shadow a shadow: The work of Joan Jonas

Literatura, poesia, cinema, teatro, mitologia, filosofia, metafísica, magia, alquimia, fenômenos místicos da natureza, música (especialmente jazz) e muito mais! O trabalho de Joan Jonas é tão completo e complexo que…

por Beta Germano
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In the Shadow a Shadow: The Work of Joan Jonas

Literatura, poesia, cinema, teatro, mitologia, filosofia, metafísica, magia, alquimia, fenômenos místicos da natureza, música (especialmente jazz) e muito mais! O trabalho de Joan Jonas é tão completo e complexo que mereceu uma publicação de mais de 500 páginas e ainda assim não parece o suficiente. Considerada a “avó da performance” a artista americana representou seu país na Bienal de Veneza de 2015 e neste mesmo ano foi lançado o livro In the shadow a shadow: The work of Joan Jonas, pela editora alemã Hatje Cantz em parceria com o Hangar Bicocca – onde ela apresentou uma extensa retrospectiva no ano anterior. 

Fã de Jorge Luis Borges, Jonas nega a própria existência do tempo e cria narrativas fantásticas que dialogam diretamente com o trabalho do filósofo surrealista. Está sempre em busca de elementos que criam ilusão como o espelhos, sombras, máscaras, diagramas matemáticos e desenhos de gestos abstratos. “São histórias de fantasmas. Eu queria falar sobre o que fica e o que está perdido e que nos assombra”, explica a artista sobre o pavilhão em Veneza, intitulado They come to us without a word.

Trabalhando entre o teatro e a arte conceitual, Jonas sempre se encantou com as possibilidades da tecnologia e estuda, desde o início da carreira, formas de construir imagens dentro de um determinado tempo e espaço: ou seja, performances e filmes. Um exemplo? Ela gravava uma performance e  apresentava-se ao vivo junto ao vídeo. Muito antes da febre das “lives” e filmes em streaming, a artista americana colocava uma câmera no espaço que mostrava seu corpo em ação ao vivo. 

Entre os trabalhos mais relevantes, está a série My New Theaters – mini palcos portáteis onde escultura, arquitetura, design e cinema se encontram – ; Mirror Piece que, encenado de diferentes formas desde 1969, trata-se de uma obra com a composição de espelhos criando espaços surreais e imagens lúdicas ( em forte diálogo com Borges!); e, as chamadas ‘translations’ ou ‘transmissions’: gestos-chave abstratos para que suas performances tenham vida em vídeos, desenhos, esculturas e instalações. 

O trabalho da Joan Jonas é sobre transformação: ela observa as alterações na natureza e trabalha com a mutação de seu  próprio trabalho em um exercício interessantíssimo de metalinguagem. Além disso, ela modifica de forma contínua e consistente seu próprio papel e o do público perante a obra. Além de se apropriar de textos e músicas, Joan Jonas usa sons de palavras, “capturados”no ar, que transformam-se em outros sons-palavras ( uma espécie de palimpsesto verbal, se é que isso é possível). Da mesma forma, ela também “captura” imagens de suas próprias projeções usando um pedaço de papel branco e duas varetas ou adotando a própria roupa ( ver capa do livro) como tela em branco. Ela transforma-se, portanto, na própria mídia de seu trabalho. O título do livro, In the Shadow a shadow, faz referência a um de seus vídeos e a sombra em destaque é a da própria artista sobre sua obra. É uma metáfora de seu próprio processo criativo, sempre trabalhado a partir de camadas infinitas de imagens e/ou linguagens sobrepostas resultando em instigantes jogos de ilusão. A ideia do livro, portanto, é justamente revelar as múltiplas narrativas por trás das histórias labirínticas criadas pela artista. Além de textos da própria artista e  fragmentos de ideias e estudos para os trabalhos, o livro conta com críticas e relatos assinados por Douglas Crimp, Richard Serra, Susan Rothenberg, Johanna Burton e Barbara Clausen.

“Há, em seu trabalho, uma forma de protesto. Protesto não apenas de algumas espécies inteiras que vão desaparecer, mas ela também contesta a extinção de alguns fenômenos culturais essenciais à humanidade – caso do apagamento de algumas línguas e também da escrita à mão.”, explica Hans Ulrich Obrist. Em tempos marcados pela intensa comunicação virtual e pela morte do impresso, registrar seu trabalho num livro parece mais que mágico, é inegavelmente necessário.  

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