Era 1987 quando uma inundação no ateliê do Willy de Castro obrigou uma transferência emergencial de todo acervo. Mas para onde? Os documentos que foram salvos depois da tragédia foram confiados à marchand Raquel Arnaud. Três anos depois Sérgio Camargo faleceu e a família deixou os espólio sob guarda de Arnaud que era amiga e galerista do escultor há dezoito anos. “Essa documentação chegou em um armário, um móvel do tempo em que o artista vivia na França. Depois destes dois momentos em que precisou tomar providências emergenciais para proteger a memória não só do trabalho destes artistas, mas da História da Arte Brasileira, Raquel Arnaud entendeu que tinha uma missão: criar um espaço onde esses documentos preciosos pudessem ser preservados (devidamente higienizados, organizados, catalogados e digitalizados) e dispostos para pesquisadores do mundo inteiro. Nascia, em 1997, o Instituto de Arte Contemporânea que protege, hoje, 42 mil documentos dos artistas: Amilcar de Castro, Hermelindo Fiaminghi, Iole de Freitas, Lothar Charoux, Luiz Sacilotto, Sergio Camargo, Sérvulo Esmeraldo e Willys de Castro. E, até 2021 receberão arquivos documentais de Antonio Dias, Carmela Gross, Ivan Serpa, Jorge Wilheim e Rubem Ludolf.
Para comemorar 20 anos do IAC e a sede própria que abriria no dia 14 de março deste ano com uma exposição de projetos nunca realizados pelos artistas citados acima, mas foi adiada em virtude da pandemia do novo coronavírus, Raquel convidou o curador Jacopo Crivelli para organizar uma publicação com textos inéditos sobre os artistas sob a guarda do instituto. Crivelli que faz parte do conselho curatorial do IAC aceitou o desafio e convidou os críticos Alberto Salvadori, Aleca Le Blanc, Carla Zaccagnini e Michael Asbury para mergulhar no acervo da instituição e a partir daí elaborar textos inéditos para a publicação.
Em parceria com a editora UBU, o lançamento virtual do livro Encontros Fundamentais – IAC 20 anos, acontecerá na próxima quinta-feira, dia 21 de maio, com uma oficial live às 19h no instagram da instituição com Jacopo Crivelli e a jornalista Luana Fortes. Nos textos de abertura Arnaud resgata a história do IAC desde sua inauguração e Crivelli, que foi curador da mostra IAC 20 anos em 2017, fala sobre a importância dos arquivos guardados e conservados pelo instituto para a compreensão de alguns dos momentos chave da história da arte brasileira das últimas décadas. Ao evidenciar a riqueza dos documentos que compõem o acervo do IAC, o curador afirma “a trajetória de um artista é muito mais rica do que se percebe ao olhar apenas suas obras-primas”: estudos, esboços, projetos, objetos, anotações, cartas – tudo ajuda público e pesquisadores a entender os pensamentos de cada artista e de cada obra – realizada ou não. Apesar do instituto centralizar seus projetos em artistas nacionais, as pesquisas que nascem ali reverberam além e a publicação mostra isso em alguns ensaios como E agora José? Sergio Camargo e os circuitos internacionais da arte nos anos 1960, escrito por Michael Asbury. Já o ensaio de Carla Zaccagnini, intitulado Abstração, é resultado de uma convivência intensa com o acervo: ela propõe um olhar extremamente pessoal para um inabarcável conjunto de documentos e objetos, “mortos de vontade de se revelar”, como ela diz. Alberto Salvadori mergulha no mundo de Willys de Castro, enquanto Aleca Le Blanc propõe uma releitura dos modelos de educação e pesquisa sob a perspectiva dos artistas concretos e a revolução industrial no Brasil. O livro já pode ser adquirido no site do IAC. Vale a leitura.