A pesquisa de Lívia Aquino parte, inicialmente, da fotografia, mas expande-se para outros meios à medida que seus interesses poéticos também envolvem o corpo, a linguagem, a arquitetura. Seus trabalhos falam de questões às vezes íntimas, às vezes públicas; ora remetem à própria história da arte ocidental, ora ao complexo contexto político brasileiro.
Em “Como falam as fotografias”, a artista usa os avessos de fotos de família para criar uma espécie de glossário – palavras que atestam as relações familiares contidas nas imagens – tornando-se como retratos ao contrário. “Recontro”, de 2016, é um livro que carrega imagens realizadas em uma viagem à China: Aquino estabelecia contato visual com pessoas estranhas pela rua, andando na contramão para forçar que se encarassem, criando pequenos encontros anônimos que deram origem a retratos tratados de maneira a tornarem-se extremamente brancos, como se feitos sob uma luz quase insuportável, ou como leves e delicados desenhos em grafite.
Em “Uma língua fala, o corpo inteiro labuta”, de 2017, a artista implica o próprio corpo em uma performance na qual lê o livro “A metamorfose”, de Franz Kafka, sentada em uma cadeira diante de uma mesa, o livro sobre esta. O público é convidado a ouvir atentamente a leitura do início ao fim do livro. No espaço, lê-se uma instrução ao espectador: escolha um livro que seja um golpe de machado no seu crânio. Já em “Vizinhas”, Aquino abandona as palavras sobre a página e utiliza-se de uma gravação para narrar os diários de quatro importantes mulheres para a literatura e o feminismo: Susan Sontag, Carolina de Jesus, Virginia Woolf, Simone de Beauvoir. Livros em branco em cima de uma mesa convidam o público a sentar e folhear, mas é a escuta dos áudios que fornece as histórias, demandando um outro tipo de atenção do espectador.
Lívia Aquino nasceu em Fortaleza, é pesquisadora do campo da cultura e das artes visuais, é professora e artista. Doutora em Artes Visuais e Mestre em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Participa do Grupo de Pesquisa Proposições Artísticas Contemporâneas e seus Processos Experimentais, na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Atualmente vive e trabalha em São Paulo, onde coordena a pós-graduação em “Fotografia: Práticas Poéticas e Culturais”. Ministra oficinas em diversas instituições culturais e é autora do livro Picture Ahead: a Kodak e a construção do turista-fotógrafo.