Há 9 anos Jaqueline Martins abriu um pequeno espaço em Pinheiros apostando em artistas jovens e resgatando nomes esquecidos pelo mercado. Começou comedida, insistente e até um pouco louca por investir em artistas que produzem trabalhos especialmente difíceis de vender. Mas revelou-se gigante. Mudou para um espaço maior em Santa Cecília e construiu um nome sólido internacionalmente participando de feiras e incluindo obras em respeitadas instituições. Chegou o momento de dar mais um passo: a galeria abrirá um novo espaço em Bruxelas no dia 17 de Outubro. Yuri Oliveria, que trabalhou por muitos anos com Luciana Brito, será o sócio da nova empreitada que começará com uma mostra de Hudinilson Jr.
Jaqueline não é a primeira a apostar na cidade devido sua localização estratégica – perto de outras grandes capitais europeias da arte, como Londres, Paris e Zurique. Seu espaço, aliás, ficará bem próximo do ponto europeu da Mendes Wood DM, no bairro Sablon. A galeria também tem uma forte base de clientes na Europa, particularmente na Bélgica, que conquistou com sua participação em feiras de arte, incluindo Art Basel, Frieze London, Frieze New York e Arco Madrid.
A dupla havia planejado a abertura para Abril, mas atrasou por causa da pandemia do Covid-19. Nesse meio tempo eles ponderaram se é o melhor momento para abrir esta frente na Europa, mas a mudança do mundo os incentivou ainda mais: “Sem feiras de arte física, estar apenas no Brasil, quando temos uma relação tão forte com europeus e belgas, fica difícil manter essas relações. Estar em Bruxelas vai ajudar-nos a continuar a trabalhar para nos mantermos próximos da comunidade daqui. ”, disse Yuri ao Artnews.
Jaqueline passou cerca de um ano entre 2009 e 2010 fazendo pesquisas profundas no MAC de São Paulo. Foi lá que ela conheceu a obra de alguns dos artistas de vanguarda do Brasil – em particular Hudinilson Jr., Letícia Parente e Regina Vater – que foram bem conhecidos nas décadas de 1960, 1970 e 1980, mas cujas importantes contribuições e as práticas experimentais – em áreas como vídeo, performance e arte Xerox – foram esquecidas ou negligenciadas. Entre os jovens artistas representados pela galerias, estão Ana Mazzei, que abriu nova individual essa semana; Daniel de Paula, que está com presença confirmada para a próxima Bienal de São Paulo; e, Adriano Amaral. Na versão belga, Jaqueline pretende criar mais diálogos multidisciplinares como fez no início da pandemia apresentando vídeos de seus artistas ao lado de peças literárias, cinematográficas e teatrais. Durante o isolamento social a galerista promoveu, ainda, uma das mais interessantes mostras online do país apresentando os trabalhos de Pedro França em conversa com os de Victor Gerhard.
Quando abriu seu primeiro espaço, muitos já a alertavam para um possível fracasso. “Quando abri, muitas pessoas, incluindo meus colegas aqui em São Paulo e meus clientes, me disseram:‘ Jaqueline, esqueça isso – é impossível. Você nunca vai sobreviver com esse programa aqui no Brasil. Para mim, a missão sempre foi criar possibilidades de dar visibilidade a esses artistas.”, lembra. Parece que ela está provando o contrário.