“Meu trabalho é mais sobre a sua visão do que sobre a minha visão, embora seja um produto da minha visão. Também estou interessado na sensação de presença do espaço; esse é o espaço onde você sente presença, quase uma entidade – aquele sentimento físico e poder que o espaço pode dar”
James Turrell é um artista que trabalha a luz, com a luz, para a luz. Seu interesse pelo meio luminoso vinha da infância – o próprio artista conta que era fascinado pelo fenômeno, o que já inspirou seus primeiros trabalhos. Outro elemento importante na sua formação foi a gradução em psicologia, e os experimentos que conheceu na faculdade sobre a privação sensorial.
Na década de 1960, vivendo no Sul da Califórnia, Turrell produziu experimentos com luz a partir do fenômeno da Câmera Escura: em uma sala fechada e isolada, controlava as frestas e aberturas para que quantidades precisas de luminosidade entrassem no espaço, criando projeções distorcidas do exterior no interior do ambiente. A partir do ano de 1968, essas experimentações ganharam novas camadas de complexidade, com a adição de elementos de cor, de luz artificial e de intervenções na arquitetura para tecer ilusões de ótica – profundidade, volume, espaço e movimento.
Lidando com um meio tão imaterial e, ao mesmo tempo, tão cheio de presença e corpo, Turrell é talvez o artista mais prolífico nas investigações das possibilidades que a luz oferece como suporte para o trabalho artístico, criando multi-planos, outras dimensões, universos inteiros. Talvez esse interesse pelo aspecto simultaneamente telúrico e cósmico da luz tenha sido determinante para o projeto central de toda sua carreira, iniciado no final da década de 1970 e em contínuo desenvolvimento até hoje.
Em 1977, Turrell adquiriu uma propriedade rural no norte do estado de Arizona, nos Estados Unidos, onde havia um vulcão já inativo. A área, chamada de Roden Crater, serviu para a construção de uma espécie de bunker subterrâneo no local. O artista escavou por baixo do diâmetro da cratera, abrindo câmaras, túneis e clarabóias de dentro do vulcão. Em suas próprias palavras, o projeto é um portal para observar a luz e o tempo.
As câmaras e salas do complexo também evocam uma estação de observação astronômica, isolando e intensificando a luz do sol, da lua, das estrelas e dos planetas, convidando ao espectador a submeter-se a uma experiência sem paralelos de conexão com o cosmos (e talvez só experimentada por astronautas no espaço). O projeto ainda não está aberto a visitação, mas espera-se que seja concluído nos próximos anos.
“Meu trabalho não tem objeto, imagem ou foco. Sem objeto, sem imagem e sem foco, o que você está vendo? Você está olhando para você olhando. O que é importante para mim é criar uma experiência de pensamento sem palavras.”