Home EditorialArtigos Jaime Lauriano e Igor Vidor formam o Silêncio Coletivo, um duo ensurdecedor

Jaime Lauriano e Igor Vidor formam o Silêncio Coletivo, um duo ensurdecedor

Antigos amigos são agora mais do que nunca parceiros de trabalho que unem poéticas de denúncias políticas

por Giovana Nacca
2 minuto(s)
Silêncio Colteivo
Jaime Lauriano e Igor Vidor – Silêncio Coletivo

Pode um sistema opressor unir a produção de dois artistas? A história da amizade de quase 20 anos entre Jaime Lauriano e Igor Vidor nos mostra que sim. Os antigos colegas de faculdade, passaram a dividir um ateliê em Portugal e desde então, as práticas conjuntas fluíram naturalmente para a formação do duo Silêncio Coletivo. 

Mesmo sendo estudantes de uma faculdade particular de alto padrão, os dois bolsistas na verdade se uniram por conta do cenário amplamente precário que os circundavam. A falta de oportunidade no mercado artístico foi motor para poética de suas produções e afinidades.

Ainda que haja distinções em seus momentos de carreira e questões raciais que perpassam as poéticas de Lauriano, a dupla tem mais semelhanças do que diferenças. Ambos possuem a arte como principal ferramenta de denúncia das mais diversas violências, e exploram mecanismos de poder e opressão especialmente no âmbito nacional. 

Por tudo isso, o país que sedia o ateliê e recebeu as primeiras exposições do duo, é também um lugar de resistência para suas produções pautadas nas heranças coloniais. A exposição Paraíso da Miragem, realizada neste ano na Kubik Gallery em Porto, é um exemplo que prova isso. Nela, a obra Do pó ao pó, simula o empilhamento de commodities como café, cocaína, açúcar e cartuchos de munição – uma clara alegoria às comercializações, tanto colonialistas, quanto contemporâneas que desencadeiam abusos e traumas no Brasil.

O nome Silêncio Coletivo nasce da vontade da dupla se destituir de autoria individual, e ainda deixa em aberto para abrigar possíveis novos colaboradores. E além de refletir sobre as temáticas abordadas em seus trabalhos, o nome carrega um enorme significado quando posto como assinatura: eles são o silêncio coletivo, eles são um silêncio ensurdecedor. Silêncio este que grita frente às opressões diárias e que é bem exemplificado com o título da obra de 2018 de Vidor: Se você está ouvindo isso já é tarde demais.

Apesar do grande entrosamento, ambos continuam suas produções paralelas independentes e enxergam suas singularidades mesmo quando em conjunto. “Gosto de pensar que somos como os Racionais que não estavam sempre juntos, eles trabalhavam mais com uma espécie de colagem, mas se reconheciam como grupo” – explica Vidor. 

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