O Reino Unido encerrou neste final de semana o “Jubileu de Platina”, um evento que celebra os 70 anos de reinado da monarca britânica Elizabeth II. E neste ano, um número considerável de artistas visuais foram honrados na lista de condecorações da Rainha: Nicholas Coleridge, presidente do Victoria & Albert Museum desde 2015, é elogiado por presidir “um período notável de ressurgimento” para o museu; Isaac Julien, o artista e cineasta produz um trabalho que “quebra as barreiras entre as diferentes disciplinas artísticas”; e Jeremy Wright, que atuou como secretário de Estado para Digital, Cultura, Mídia e Esporte de 2018 a 19, até ser dispensado pelo então primeiro-ministro Boris Johnson. Além disso, Cornelia Parker, uma escultora com uma retrospectiva que acaba de abrir na Tate Britain, foi nomeada Comandante da Ordem do Império Britânico, e Nadia Samdani, uma colecionadora de Bangladesh foi nomeada membro da Ordem do Império Britânico.
Como parte das tradicionais cerimônias chamadas Queen’s Honours, as condecorações são concedidas duas vezes ao ano, uma vez na véspera de Ano Novo e outra no aniversário da rainha. Mas dentre os nomes divulgados, queremos destacar Isaac Julien, não apenas por seu respeitável trabalho pioneiro em instalação de tela múltipla, mas também pelo significativo reconhecimento, visto que poucos artistas negros britânicos foram condecorados ao longo da história.
O contexto tem sido problematizado especialmente desde 2003, quando o poeta Benjamin Zephaniah rejeitou o prêmio devido aos “milhares anos de brutalidade” associados ao colonialismo do império britânico. A situação passou a mudar, no entanto, quando em 2019, o artista e cineasta Steve McQueen aceitou o título. Na época, McQueen confessou em entrevista ao Guardian que aceitar a designação “não foi uma decisão fácil”, e explicou: “Eu vejo que algumas pessoas se sentem hesitantes (…) Este é um dos maiores prêmios que o estado dá, então eu vou levá-lo. Porque eu sou daqui e se eles quiserem me dar um prêmio, eu vou tê-lo, muito obrigado. Eu vou usá-lo para o que eu puder usar”.
Frank Bowling, artista considerado um dos principais pintores britânicos de seu tempo, teve uma reação semelhante a McQueen ao receber seu título em 2020. Tendo nascido na Guiana Britânica, o artista que vive em Londres e Nova York, disse em um comunicado: “Formado na tradição da escola de arte inglesa, minha identidade como artista britânico sempre foi crucial para mim e tenho visto Londres como minha casa desde que cheguei em 1953. Ser reconhecido por minha contribuição para a pintura e história da arte britânicas com esse título me deixa extremamente orgulhoso.”
Julien é reconhecido por suas instalações cujas temáticas partem da sua identidade como um homem gay negro de Londres, como em Looking for Langston (1989), que retrata Langston Hughes e o Harlem Renaissance. Vale ainda citar a valiosa obra Lessons of the Hour—Frederick Douglass (2019), uma série de vídeos que recriam a vida de Frederick Douglass, e a instalação de nove telas Ten Thousand Waves (2010) que investiga o passado antigo da China e o presente em mudança por meio de narrativas entrelaçadas. Sendo o terceiro homem negro a receber as condecorações da rainha, seu título foi justificado pela “diversidade e inclusão na arte”.