Instalação inédita de Ai Weiwei em Kyiv questiona uso da razão na guerra

O renomado artista chinês anuncia nova instalação na Ucrânia, unindo referências clássicas e tensões contemporâneas

por Luiza Alves
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Em meio à crise política e econômica que atravessa a Ucrânia, Ai Weiwei reafirma sua postura crítica no campo da arte contemporânea com o anúncio de sua primeira instalação em Kyiv, capital do país. Intitulada Three Perfectly Proportioned Spheres and Camouflage Uniforms Painted White (“Três Esferas Perfeitamente Proporcionadas e Uniformes de Camuflagem Pintados de Branco”), a obra dá continuidade ao interesse de longa data do artista pelos efeitos da guerra e do conflito na condição humana.

A instalação será exibida de 14 de setembro a 30 de novembro de 2025 no Pavilhão 13, um espaço expositivo situado no Expocenter da Ucrânia (VDNH). A peça foi encomendada pela organização cultural sem fins lucrativos Ribbon International, que apoia as artes na Ucrânia por meio de exposições, programas públicos e subsídios. Reaberto no final de junho, o local de exibição passou por uma reforma liderada pela Forma, um escritório de arquitetura na capital ucraniana, administrado por Iryna Miroshnykova e Oleksii Petrov.

Ai Weiwei trabalhando em Três Esferas Perfeitamente Proporcionais e Uniformes de Camuflagem Pintados de Branco. Foto: Adam Simons / RIBBON International.

Para a instalação, Ai Weiwei reutiliza a estrutura da obra Divina Proportione (2004–2012), criada a partir de ilustrações de Leonardo da Vinci para o livro homônimo sobre matemática. Composta por três esferas de madeira com 1,5 metro de diâmetro — forma emblemática associada a antigos ideais de ordem e racionalidade —, a estrutura será revestida com tecido estampado em padrão de camuflagem e cercada por uniformes militares pintados de branco com rolo, combinando o simbolismo da pureza com o imaginário bélico. Segundo o artista, o contraste entre os princípios do Iluminismo — como razão, ordem e lógica — e o caos do militarismo atual funciona como crítica ao uso distorcido desses ideais na contemporaneidade.

Nascido em Pequim em 1957, o artista se formou na Academia de Cinema de Pequim e na Parsons School of Design, em Nova York. Em suas instalações, aborda temas como conflitos armados, repressão política, questões geopolíticas, crises migratórias e direitos humanos, sempre com foco em formas de resistência frente ao autoritarismo e à censura.

Confira a seguir outros três trabalhos do artista:

“Law of the Journey” (2017)

Uma representação direta e impactante da crise migratória global. A obra apresenta um bote inflável de 60 metros de comprimento, ocupado por mais de 300 figuras humanas sem rosto — uma alusão à condição dos refugiados e à desumanização enfrentada por essas populações em trânsito.

Foto: Ai Weiwei e The National Gallery of Prague.

“Remembering” (2009)

Criada para a fachada do museu Haus der Kunst, em Munique, a instalação foi composta por 9.000 mochilas infantis coloridas, dispostas de forma a formar os caracteres chineses que diziam: “Ela viveu feliz por sete anos neste mundo”. A frase foi dita pela mãe de uma das milhares de crianças que morreram no terremoto de Sichuan, em 2008 — tragédia que inspirou Ai Weiwei a investigar e denunciar a negligência do governo chinês.

Foto: Ai Weiwei

“S.A.C.R.E.D.” (2013)

Composta por seis dioramas em escala real, a obra recria os 81 dias de detenção secreta de Ai Weiwei pelas autoridades chinesas em 2011. Cada caixa de aço reproduz fielmente o ambiente da cela e mostra esculturas hiper-realistas do artista ao lado de dois guardas, em cenas cotidianas de vigilância e confinamento.

Foto: Domenico Stinellis

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